A cada dia, o cosplay está mais popular tanto no Brasil quanto no mundo, reunindo cada vez mais fãs e adeptos da prática. Mas, tudo bem se você ainda não sabe direito o que é isso. A Mundo Ok explica: o termo surgiu da contração de duas palavras em inglês costume (fantasia /traje) e play (brincar/interpretar). É um hobby que consiste em se fantasiar de personagens de filmes, games, seriados, quadrinhos ou desenhos animados.

Porém, muito além de usarem as fantasias, os praticantes, chamados de cosplayers, também assumem a personalidade de seus personagens, imitando também a maneira de se comportar, a postura, fala, poses típicas e trejeitos. De certa forma, o cosplay é a homenagem de um fã a seu personagem. Eles se reúnem em eventos como encontros de cosplayers, convenções de animê, mangá e games, e ainda participam de concursos.

E os brasileiros estão se destacado nesse cenário, alguns têm até o seu trabalho reconhecido internacionalmente. Como é o caso da brasiliense Gabriela Almeida, talentosa cosplayers mais conhecida como “Shermie”, personagem da série The King ofFighters – KOF. “Ainda é surreal ser reconhecida no exterior. Tive a chance de trabalhar com empresas que admiro demais, como a CDProjekt RED e isso é algo que eu nunca imaginei que fosse acontecer. É bem bacana ter seu trabalho reconhecido em vários lugares do mundo”, relata.Shermie também é dona de um dos melhores cosplays de Ciri, de The Witcher 3, da internet, cosplay que ilustra a nossa capa, e conta que entrou nesse universo meio que por um acaso. “Eu estava na oitava série e um amigo me convidou para ir com ele a um evento de cultura pop japonesa. Como na época jogávamos muito KOF, decidi fazer o cosplay da Shermie, minha personagem favorita, que também deu origem ao meu apelido”, lembra. “Foi uma experiência incrível e nunca mais parei. Isso foi há 11 anos”, revela. Atualmente, Shermie mora em Varsóvia, na Polônia, e vive apenas de seus trabalhos com cosplay.

Os praticantes desta atividade costumam criar na base do “faça você mesmo” e produzem os trajes completos de seus personagens, das roupas aos acessórios. E com Shermie não é diferente: “Me formei em Design de Moda e desde então faço meus próprios cosplays. Do molde ao acabamento. O tempo varia muito, alguns cosplays podem levar mais de mês, outros eu começo e termino em três dias”, esclarece.
Ao contrário de muitos que seguem pelo caminho da competição, Shermie nunca foi de competir. “Concursos geram uma carga extra de estresse que eu nunca procurei nesse hobby”, ressalta. Mas, a jovem já participou de grupos de Teatro Cosplay e já foi jurada de diversos concursos como o Yamato Cosplay Cup – YCC e a etapa brasileira do World Cosplay Summit – WCS. “O cosplay tem crescido muito no Brasil, temos vários títulos internacionais, cosplayers cada vez melhores, tanto na qualidade da fantasia quanto na interpretação, estamos no caminho certo”, observa.

Assim como Shermie, Andrea Tanaka também não compete. A educadora física que hoje só trabalha com cosplay, participou de seu primeiro evento com o cosplay da Chun Li, do game Street Fighter. “Eu estava com depressão, após o falecimento da minha mãe, quando um amigo me convenceu a ir de cosplay em um evento de cultura pop. E isso foi um divisor de águas, eu encontrei uma nova vida após esse evento”, conta. “Eu passei a trabalhar nos eventos e a me dedicar completamente a esse mundo, fiz muitos amigos, me curei da depressão e conheci o meu marido, que também é cosplayer. Sou eternamente grata por tudo o que esse universo me proporcionou”, revela.

Andrea também coordena o Grupo Cosmix, o maior e mais completo grupo de Os Cavaleiros do Zodíaco do mundo. “Temos um grupo bem completo com 12 cavaleiros de ouro, cinco de bronze e a Deusa Athena – SaoriKido. Nos reunimos sempre para ensaiar e fazemos performances em eventos e apresentações de peças teatrais”, esclarece.

Da diversão ao trabalho

 Para muitos o cosplay pode ser considerado apenas um hobby, para outros um estilo de vida, e, há alguns anos, é profissão para muitos, com uma gama de atuação em áreas distintas.

Se logo que a ideia chegou ao Brasil os cosplayers não tinham outra opção senão costurar e montar seu próprio cosplay, hoje podem contar com a ajuda de um profissional especializado no assunto, o cosmaker, que estuda o personagem e confecciona toda a fantasia sob medida.

Lojas especializadas, conhecidas como cosplay stores, também vêm ganhando cada vez mais espaço no Brasil, principalmente, na internet. Nelas estão disponíveis materiais, acessórios, perucas e lentes coloridas, tudo para facilitar a composição do traje do personagem.

Há até estúdios de fotos especializados em cosplayers, em que cada ensaio é pensado e ambientado de acordo com o personagem. “Atualmente, 90% do meu trabalho fotográfico é relacionado a cosplay. Sempre gostei da cultura oriental e participei de eventos relacionados a cultura pop, e agora consigo unir trabalho com um assunto que me fascina”, ressalta o fotógrafo e diretor de arte, Willian Dobler Mendes.

Para ele, trabalhar com cosplay é sempre desafiador. “Quandopegamos o trabalho, temos que pensar no local, na ambientação e nas referências do personagem, o que faz com que cada ensaio se torne único e especial”, revela. “Os que mais me marcaram foi um ensaio da personagem 2b do game Nier, e um de piratas, que reuniu vários cosplayers a beira mar, e eu com água até o joelho”, conta.

Como tudo começou

 Ao contrário do que muitos imaginam, o cosplay não nasceu no Japão. Sua origem vem das convenções de ficção científica nos Estados Unidos. Por volta da década de 1930, dois jovens apareceram fantasiados com trajes espaciais na 1ª Worldcon, em Nova Iorque. A ideia fez tanto sucesso, que nos anos seguintes dezenas de pessoas também compareceram às convenções com fantasias e até um concurso foi criado para elas.

Em 1984, o japonês Nobuyuki Takahashi, do Studio Hard, visitou o evento e ficou impressionado com as fantasias e com as apresentações criativas, levou a ideia para o Japão e passou a difundir a prática por meio de revistas de ficção científica com o nome de cosplay. Em pouco tempo, o hobby se tornou um fenômeno no país, se popularizando entre os jovens na faixa dos 20 anos. E junto com ele nasceu uma indústria do cosplay no Japão, com lojas, publicações e profissionais especializados no tema.

Em Ikebukuro, um dos centros urbanos de Tóquio, por exemplo, existem inúmeras lojas de cosplay, onde é possível encontrar fantasias, acessórios, e até um espaço com mais de 600 variedades de cor de peruca.

Todos os anos, a terra do sol nascente também organiza o Encontro Mundial de Cosplay, que reúne pessoas de mais de 30 nações, todas apaixonadas por se tornar, por alguns momentos, o seu personagem preferido.

Já nos anos 1990, o cosplay se espalhou pelo mundo, desembarcando em terras brasileiras durante as primeiras convenções de animê e mangá. De lá para cá, o número de aficionados por esse hobby cresceu e atualmente existem no Brasil diversos encontros, concursos e apresentações em várias regiões brasileiras, especialmente, em São Paulo, que reúne as principais competições de cosplay do país.

 

Encontros e competições

Ao longo do ano, várias cidades do país recebem encontros de cosplay. Só em São Paulo, acontece pelo menos um evento desse tipo por semana. Reunidos em sites e comunidades, como o facebook, os adeptos marcam encontros livres para reunir os amigos e entusiastas da prática. “Há encontros por toda a cidade como no Ibirapuera, na avenida Paulista, masatualmente o lugar preferido do pessoal tem sido o tradicional bairro oriental da Liberdade”, revela Andrea. Há também encontros mais famosos e aguardados pelos cosplayers como o Cosplay Walk e o Encontro Cosplay é Coisa Séria.

O mesmo acontece com os torneios, são diversas as competições que ocorrem pelo país. Entre os destaques estão o Concurso Cosplay Experience, realizado na Comic Com Experience, em que o prêmio principal é um carro. E o Cosplay World Masters, competição internacional que tem como objetivo eleger o melhor e mais completo cosplayer do mundo por meio de uma performance individual. “No Brasil são realizadas diversas seletivas, o campeão brasileiro vai para Portugal disputar a final com os competidores de cerca de 19 países, o vencedor ganha um prêmio em dinheiro”, explica o coordenador do evento em terras brasileiras, Raphael Faria. “Em 2018 já temos confirmadas seletivas no Cerejeiras Festival, em Garça, no Anime Friends e no To-SaMatsuri. O local e a data da grande final brasileira serão anunciados em breve”, completa.

Outras grandes competições são oWCS, em que as seletivas acontecem em vários eventos pelo país, a final em São Paulo e a dupla campeã representa o Brasil no Japão. “O concurso já foi conquistado três vezes pelo Brasil, duas dessas vezes pela mesma dupla, os irmãos Mauricio e Mônica Somenzari”, explica o representante e apresentador da Yamato Cosplay, Daniel Bergamini Verna. E o YCC, uma competição individual, que também tem seletivas pelo país, a final acontece em São Paulo e o campeão participa do Yamato Cosplay Cup Internacional, uma competição com cosplayers de várias partes do mundo.

Como esses concursos aconteciam no Anime Friends, porém o evento não é mais da Yamato, a competição mudará de local para esse ano. “No primeiro semestre de 2018 a Yamato Cosplay vai realizar o Cosplay World, um novo evento que reunirá as finais do YCC Nacional e Internacional e a final brasileira do WCS”, adianta Verna.

Para participar desses torneios é necessário talento, empenho, dedicação e, principalmente, amor por esse hobby. Características essas que Johny Eduardo Santiago têm de sobra. Mais conhecido como “Samui San”, ele já venceu os principais torneios do Brasil, além de competições internacionais.

“Já participei de muitas competições e algumas vezes a gente consegue sair com o primeiro lugar, mas cada concurso é único, é sempre uma surpresa”, conta. Samui já venceu o Yamato Cosplay Cup 2014, o Yamato Cosplay Cup Internacional 2015, o Concurso Cosplay Experienceda CCXP 2015 e é o único brasileiro a vencer o Cosplay World Master, em Portugal, em 2016, com o cosplay Ezreal do gameLeagueofLegends.

E em todos eles, Samui foi o responsável pela fabricação do seu cosplay. “Demoro cerca de 3 meses para produzir, sempre pensando em concursos e apresentações, gasto em média de R$ 400,00 a R$ 1.000,00 dependendo do cosplay”, conta. O hobby deu tão certo, que Samui fez dele uma profissão e há cinco anos está nesse ramo. “Sou contratado para participar de eventos, faço acessórios por encomenda e peças para exposição”, relata.

“Eu comecei brincando com meus amigos, desde pequeno eu me fantasiava de Os Cavaleiros do Zodíaco com o que tinha em casa. Eu nunca imaginei que isso se tornaria um hobby e evoluiria para o meu trabalho. Poder dar vida a personagens que eu gosto e com isso conhecer outros países é muito mágico. Eu sou o que sou por causa dos concursos, meu crescimento se deve a eles”, finaliza Samui.

Um universo para todos

 Além de ser uma ótima diversão, no universo cosplay todos são bem-vindos, não há idade, gênero ou condição social que limitem. E isso pode ser comprovado com a parceria entre os cosplayers e a Associação Pró-Excepcionais Kodomo-no-Sono.

A missão da Kodomo é atuar no desenvolvimento pessoal e social de pessoas com deficiência intelectual, promovendo o respeito às suas necessidades individuais e sociais, bem como a visão de uma sociedade mais respeitosa, justa e inclusiva. “O que combina perfeitamente com os cosplayers, já que eles trazem à realidade figuras do mundo da ficção e fantasia que, de alguma maneira, fascinam. Sejam elas heróis, vilões, super-humanos, não humanos, invencíveis ou ordinários. A variedade de tipos, cores, qualidades e defeitos é o que marca e encanta. Uma verdadeira apologia às diferenças, e, ainda, um lindo exercício de anular preconceitos”, ressalta Débora Tieme, assessora da entidade.

O primeiro fruto dessa parceria foi a realização do 1º Kôs-play – Concurso de Cosplay da Kodomo-no-Sono, produzido junto com a Yamato Cosplay e o Anime Friends, nos dias 22 e 23 de julho de 2017, no 34º Festival Kodomo-no-Sono, cujo tema era: “Que tal Juntos?”.

Débora explica que o primeiro contato com esse universo foi no Anime Friends 2017, em que os assistidos da entidade estiveram presentes no evento, passeando e conhecendo de perto os cosplayers. “Em dezembro do ano passado, a MaruDivision nos convidou para dar continuidade ao projeto participando do Ressaca Friends 2017”, conta. “Nós fomos escolhidos como a entidade a ser beneficiada com as doações de alimentos e tivemos um estande em que pudemos expor o trabalho desenvolvido pela associação, receber amigos e convidados, e divulgar as famosas cerâmicas produzidas por nossos assistidos nas oficinas terapêuticas”, completa.

E em 2018 a parceria continua com a realização da 2ª edição do Kôs-play, no 35º Festival Kodomo-no-Sono. E esse ano, o evento terá um brilho todo especial já que é uma das atividades comemorativas dos 60 anos da entidade. A festa acontece nos dias 07 e 08 de julho, na sede da associação, em Itaquera.