Empreendedores de sucesso: conheça as histórias de superação e progresso de empresários da comunidade nipo-brasileira

 

Texto: Tamires Alês

 

Abstract Double exposure of Business man touching an imaginary screen against white background

Uma boa ideia é o início, mas não o suficiente para ser um empreendedor de sucesso. Amor pelo que se faz, trabalho duro, persistência, coragem e dedicação para vencer os desafios e superar os obstáculos são imprescindíveis para quem quer ter o próprio negócio e ser referência no mercado.

 

Características mais que presentes nos entrevistados da Mundo Ok de outubro. Para falar de empreendedorismo conversamos com grandes empresários da comunidade nipo-brasileira, que são destaque dentro e fora do Brasil. Como muitos empreendedores de sucesso eles tiveram que vencer dezenas de obstáculos até consolidarem e expandirem seus negócios, e se tornarem referências em seus segmentos.

Confira a seguir as trajetórias de Robinson Shiba, Chieko Aoki, Eduardo Nozaki e Rodrigo Noma.

 

O “tubarão” no comando das redes China in Box e Gendai

 

Foto: Marcelo Pereira/M11 Photos

Foi uma viagem aos Estados Unidos para aprimorar o inglês, que fez o descendente de japonês Robinson Shiba vender o consultório de odontologia e entrar no ramo da gastronomia. Após um contratempo, Shiba começou a trabalhar em restaurantes fast-foods americanos e foi aí que teve a ideia de trazer para o Brasil o modelo de comida chinesa em caixinhas.

 

O jovem odontologista voltou ao Brasil em 1989 e iniciou um processo de estudos sobre o setor de comida chinesa e delivery e como adaptá-los para a realidade brasileira. Shiba esperou o melhor momento e tornou o sonho, de abrir o próprio negócio, em realidade, em outubro de 1992, ao inaugurar a primeira loja do China in Box, no bairro de Moema, na zona sul da capital paulista.

 

“No mesmo ano eu abri o Gendai – rede de restaurantes de culinária japonesa. Um ano depois inaugurei a segunda loja do China in Box e antes de julho de 1994 já tinha 6 lojas próprias”, recorda.  Pouco tempo depois a empresa filiou-se à Associação Brasileira de Franchising (ABF), dando início ao sistema de franquias.

 

O empresário não trouxe somente uma ideia dos Estados Unidos, ele incorporou a este modelo melhorias importantes, que influenciaram o mercado, como a adesão de cozinhas abertas para os consumidores acompanharem o processo de preparo dos alimentos; o folheto de divulgação dos pratos com cores e fotografias; e a capa com o logotipo para as caixas de isopor que transportavam as refeições, as conhecidas mochilas baú, que hoje em dia são utilizadas por quase todos os entregadores.

 

Hoje, Shiba é dono da maior rede de Fast Food Chinês da América Latina e conta com 230 lojas – entre as marcas China in Box e Gendai – sendo 10 lojas próprias e as demais franqueadas.  E os planos de expansão do empresário são audaciosos: “Estamos com um novo modelo de franquia, menor, com mais tecnologia e mais barato. Com isso, pretendemos, nos próximos cinco anos, atingir um número próximo de 400 unidades, gerando em torno de 4 mil empregos”, revela.

 

“Eu não tenho a menor dúvida que o Brasil vai voltar a crescer. Temos um país de dimensões continentais, com um grande ecossistema, sem nenhuma intempérie natural, uma diversidade cultural enorme, um local que recebe bem todos os povos. Com certeza vamos decolar e eu estarei aqui para surfar nesta onda”, vislumbra.

 

Shiba também é um dos investidores do “Shark Tank – Negociando com Tubarões”, exibido pelo canal Sony. Reality show em que um grupo de investidores recebem empreendedores, que devem apresentar uma ideia de negócio e tentar o investimento dos empresários. “É uma experiência muito gratificante participar do Shark Tank. O programa estimula o empreendedorismo, que ajuda a gerar empregos, e, consequentemente, renda para a população. E este ciclo virtuoso do bem ajuda também no meu negócio. Já que, se as pessoas têm trabalho e renda, têm condições de comer mais yakissoba e sushi”, conclui.

 

Para seguir  o caminho do sucesso 

** “Uma brilhante ideia não se mantém sem uma boa gestão. Por isso, é essencial buscar conhecimento, se capacitar, planejar, entender como funciona exatamente na prática o negócio que deseja investir – não basta conhecer só como cliente –, e é essencial montar um bom time, sem uma equipe forte você não chega a lugar nenhum”.

 

Robinson Chiba

 

 

A dama da hotelaria brasileira

 

Foto: Divulgação

Não tem como pensar em Chieko Aoki sem lembrar de talento, inovação e elegância. Ela revolucionou o mercado hoteleiro brasileiro, estabeleceu novos parâmetros de serviço e de qualidade e expandiu sua marca para todo o Brasil. Por isso, é considerada a dama da hotelaria brasileira e foi apontada pela revista Forbes como a segunda mulher mais poderosa do Brasil, em 2013.

 

A Sra. Aoki, como é carinhosamente chamada por funcionários e empresários, nasceu no Japão e imigrou para o Brasil, com os pais, aos seis anos. Formada em Direito pela Universidade de São Paulo (USP), fez cursos em Administração na Universidade de Sofia, em Tóquio, e de Administração Hoteleira, na Cornell University, nos Estados Unidos.

 

Após ocupar posições de chefia e destaque em renomadas redes internacionais de hotéis nos Estados Unidos, Europa e Ásia, fundou, em 1997, a Blue Tree Hotels, uma das maiores e mais importantes cadeias hoteleiras do Brasil, que leva seu sobrenome. Aoki, em japonês, significa “árvore azul”.

 

“Nosso maior diferencial é nossa cultura que tem parte da cultura japonesa; nosso estilo de administração e nossa equipe. Esta composição forma a cultura, valores e propósito da Blue Tree que nos diferencia de outras redes”, ressalta. “No decorrer dos nossos 20 anos de trajetória desenvolvemos um padrão de qualidade, eficiência e excelência nos serviços, características inconfundíveis da Blue Tree”, completa.

 

Qualidade e tendências que foram propagadas em todo o mundo. “Em toda a minha trajetória tive muitos acertos, como o investimento no desenvolvimento de profissionais do setor; e a criação de serviços e produtos que foram importantes para a hotelaria, como a criação do xale ao pé da cama – substituindo a colcha que era, até então, utilizada no Brasil e no mundo –, o cafezinho no lobby, entre outros”, enumera.

 

Por outro lado, Chieko também enfrentou obstáculos e aprendeu com os erros. “As dificuldades são as mesmas que continuo enfrentando hoje: capital escasso, mercado com altos e baixos, pessoas com vontade, mas sem a formação esperada das escolas, necessidade de rigor na disciplina e ética. Contudo, como dificuldade faz parte de todo o processo de negócios, não as considero dificuldades e sim investimento em pontos de melhoria”, ensina.

 

Atualmente, a Blue Tree Hotels conta com 23 hotéis e resorts no Brasil, totalizando mais de quatro mil apartamentos em 19 cidades de norte a sul do país. E o plano é continuar crescendo. “Estamos sempre buscando novas oportunidades. Temos alguns hotéis para abrir, estamos em fases de negociação”, ressalta Chieko, que também comanda o Noah Gastronomia e o espaço de eventos Villa Blue Tree.

 

A dama da hotelaria brasileira ainda participa de diversas organizações de âmbito privado e governamental, como o grupo Mulheres do Brasil, que reúne executivas e empreendedoras de vários segmentos, que se encontram mensalmente para discutir e propor ações em temas ligados à educação, empreendedorismo, mulheres, negócios e projetos sociais. Também integram o comitê Ana Luiza Trajano, presidente da Magazine Luiza, e Sonia Hess, presidente da Dudalina. “É muito bom estar no grupo Mulheres do Brasil que tem propósito importante de sermos protagonistas na transformação do Brasil, para que ele seja um país melhor e justo para todos os brasileiros e estrangeiros que tenham alma brasileira. E assim contribuir, como exemplo de transformação, para o mundo”, finaliza.

 

Para seguir  o caminho do sucesso 

** “Tenham a cabeça nos sonhos e os pés no chão, e o espírito preparado para desafios e dificuldades que são superáveis com prevenção e energia positiva. Trabalhe por algo que goste, que dê prazer. Quem trabalha só por dinheiro pode estar deixando de ser feliz”.

 

Chieko Aoki

 

Franquias de sucesso no Brasil-Japão

 

Foto: Paulo Guereta

Ex-bancário formado em Economia, Eduardo Nozaki passou quatro anos trabalhando como decasségui em fábricas japonesas. Enquanto isso, estudava por conta própria sobre mercados e investimentos, já sonhando em ter o próprio negócio. Quando retornou ao Brasil, em 1994, abriu uma papelaria em sociedade com um irmão. O Negócio prosperou, mas Nozaki queria ampliar os horizontes e investir em novos projetos.

 

Foi quando vendeu a sua parte na loja para o irmão e correu atrás de um mercado promissor na época: o de franquias. Mais uma vez, estudou, pesquisou e planejou com cautela a execução do projeto. Em 1997 inaugurava a primeira unidade da rede de idiomas Wizard na Vila Carrão, zona leste da capital paulista. “Era um segmento que estava crescendo muito na época e a Wizard era nova, estava despontando no Brasil, me interessei e a aposta se mostrou acertada”, lembra.

 

“Não tinha experiência no ramo de idiomas, fui aprendendo na prática e com as orientações do franqueado”, conta. O preparo, conquistado com muita dedicação, possibilitou que Nozaki alçasse novos voos e iniciasse a expansão internacional da rede em terras nipônicas. Foi assim que, em 2001, ele inaugurou a primeira unidade da Wizard no Japão, em Toyohashi, na província de Aichi, voltada para os brasileiros residentes na região.

 

O negócio cresceu, atraiu alunos de outras cidades, e em 2003, Nozaki inaugurou a unidade de Nagoya. Em 2004, mais uma em Hamamatsu. “Em 2005 retornei ao Brasil e deixei uma equipe administrando as unidades do Japão”, explica.

 

Nozaki não parou por aí. No Brasil, continuou investindo no negócio e inaugurou mais duas unidades: Vila Matilde (2007) e Shopping Aricanduva (2011). “As três unidades brasileiras foram premiadas com o prêmio Águia Top no Programa de Excelência do Franqueado – PEF e estão entre as 96 melhores franquias da rede”, ressalta orgulhoso.

 

Se o caminho até aqui foi fácil, a resposta é não. “As dificuldades foram muitas. A carga tributária no Brasil é muito alta, antes mesmo de começar a trabalhar, você já tem que pagar muitas coisas. Por isso é importante ter paciência para esperar acontecer e ter sempre um plano B para executar se necessário”, indica. “Contudo, ter escolhido o sistema de franquia me ajudou, pois apesar de ser uma escolha mais engessada, a franquia fornece o conhecimento e a experiência que você não tem, e te guia por um caminho mais seguro”, completa.

 

Para seguir  o caminho do sucesso 

** “É importante se informar adequadamente sobre o empreendimento desejado, ser otimista, e não ficar ansioso demais pelos resultados, esperando que eles sejam rápidos. Os seis primeiros meses, um ano, são os mais difíceis. Por isso, informação e planejamento são fundamentais”.

 

Eduardo Nozaki

 

O maior dos escape games no Brasil

 

Foto: Paulo Guereta

Em 2015, começaram a pipocar em São Paulo os jogos de imersão, ou seja, salas temáticas, com decoração, pistas escondidas, enigmas e uma missão: descobrir como sair dela em, geralmente, 60 minutos. Os escape games ou jogos de fuga, levam para a vida real um jogo de enigmas, que geralmente é jogado no computador ou no videogame. O modelo começou no Japão e se espalhou por Ásia, Europa e EUA, até desembarcar em terras brasileiras.

 

No mesmo ano, após conhecer o jogo nos Estados Unidos, Rodrigo Tavares Noma, de 40 anos, viu ali uma oportunidade de empreender e trazer a ideia para o Brasil. “Voltei para São Paulo e comecei a pesquisar sobre o mercado e estruturar o projeto. Em quatro meses abrimos a primeira loja do Escape Now no bairro da Mooca, na zona leste de São Paulo”, conta Noma, que administra o negócio com a sua família.

 

De lá para cá, o mercado dos jogos de fuga só cresce e cada vez mais pessoas viram fã do entretenimento. Mas, ainda não é conhecido por todos. “Os problemas e obstáculos sempre existem em um novo empreendimento, mas no nosso caso a maior dificuldade é convencer as pessoas a conhecer este novo estilo de diversão em grupo. Sempre estamos buscando novas maneiras de divulgar nosso negócio”, revela.

 

Para se destacar neste meio, Rodrigo e sua família apostam em inovação. “Estamos continuamente desenvolvendo novas temáticas e trazendo novidades para o público. Fomos os primeiros, por exemplo, a criar uma sala sem cadeado, a investir em atores profissionais, enfim, estamos sempre inovando”, ressalta.

 

Atualmente, a Escape Now possui quatro unidades (Mooca, Vila Mariana, Campo Belo e São Caetano do Sul) e 15 salas temáticas em funcionamento. “Somos a maior empresa de jogos de fuga do Brasil e nosso objetivo é crescer ainda mais”, ressalta.

 

Além de estruturar o negócio para o sistema de franquias, a marca também inaugura mais uma loja ainda este ano. “Até o final de 2018 inauguramos a loja de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo”, revela. “O interior tem um grande potencial de expansão, já que os escape games ainda não são muito conhecidos por lá. Com certeza é um nicho de mercado que pretendemos explorar”, finaliza.

 

Para seguir  o caminho do sucesso 

** “O primeiro passo é ter um bom planejamento; segundo acreditar no seu projeto, mesmo com as dificuldades iniciais. E, por último, aprender com os próprios erros que surgirão ao longo do caminho, que fazem parte e servem para nos ajudar a melhorar a cada dia”.

 

Rodrigo Noma