Economia – Mais moderno, impossível

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No Japão, cidade 100% sustentável receberá primeiros moradores em abril 

O termo sustentabilidade está tão em voga que muitas empresas enxergam nesse filão uma maneira de aumentar consideravelmente suas vendas. Lançam produtos com o selo “sustentável”, promovem serviços com tal apelo, além de lançarem mão de campanhas conscientizando a população sobre os benefícios. Porém, no Japão, o apelo foi tão surpreendente que já está em construção a primeira cidade sustentável do mundo. E com grandes chances de ter lista de espera de potenciais moradores interessados.

Antes abrigo de um grande parque industrial, Fujisawa, no leste do Japão, era uma típica cidade voltada ao trabalho. Por ali, a Panasonic mantinha milhares de funcionários em linhas de produção que englobavam televisores, geladeiras e ventiladores. Porém tal cenário mudou há alguns meses. Se antes haviam esteiras e grandes galpões, agora, na área de 19 hectares – o equivalente a 24 estádios do Morumbi -, é possível ver contornos de casas e vilarejos com a temática “totalmente sustentável”. O custo? Mais de R$ 1 bilhão.

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No planejamento, os primeiros moradores já devem se estabelecer em abril próximo, respirando um novo ar em termos de mobilidade urbana: passear com um automóvel será silencioso e ecologicamente correto, pois todos os carros serão elétricos; a energia que abastece a cidade virá exclusivamente de placas solares. A previsão é de, até mesmo, a prefeitura local incentivar financeiramente as cerca de mil famílias para viverem de forma sustentável. Ou seja, tudo para criar-se um estilo de vida totalmente diferente do que encontramos hoje.

O projeto é capitaneado pela própria Panasonic – que cedeu os terrenos e responderá por 50% do investimento total – e conta com a parceria de outras oito empresas. Sete delas japonesas, mais a norte-americana Accenture. O valor das casas ainda não foi revelado, mas uma “panahome” (modelo sustentável pré-fabricado da Panasonic) é vendida atualmente no Japão por cerca de R$ 1 milhão. A diferença é que agora não serão apenas as casas que funcionarão de forma inteligente e ecológica, mas uma cidade inteira.

Dentro dos planos de ação, as casas irão dispor das últimas tecnologias para criar, armazenar e controlar a energia com a finalidade de que esta cidade reduza as emissões de CO2. Outras características que contemplam este novo modelo de cidade é a criação de espaços para facilitar o carregamento de energia de carros elétricos, e de bicicletas elétricas.

Em Tóquio, a Panasonic dispõe de um modelo de casa aberta ao público que exemplifica a simbiose perfeita entre o desenvolvimento e a harmonia com o meio ambiente. Desde a construção, até aos seus equipamentos, passando pela geração energética, tudo se desenhou com base na premissa do respeito meio ambiental e da emissão zero de gases de efeito de estufa.
A casa conta com um sistema de ar híbrido que combina a ventilação natural e mecânica para favorecer a economia de energia dos dispositivos de climatização. Além disso, os aparelhos de ar condicionado dispõem de um sensor que detecta a presença das pessoas na mesma casa, para adequar a temperatura às ações que se estejam a realizar.
Toda a casa está equipada com luzes LED que se caracterizam por poupar energia, gerar pouco calor e possuir uma vida longa e útil. O frigorífico, o ar condicionado, a máquina de lavar/secar e o abastecimento de água quente estão equipados com a tecnologia de bombas de calor que utiliza o calor disperso no ar.

O projeto ganha ainda mais relevância depois do terremoto e posterior acidente nuclear pelo tsunami, ocorrido há três anos, que, entre outras reflexões, serviu para conscientizar a população sobre a necessidade de promover um modo de vida mais sustentável. “Estamos muito satisfeitos por estarmos envolvidos num projeto transformador que gerará investigações e desenvolvimentos pioneiros no mundo. Cremos que as cidades inteligentes e ecológicas nunca estiveram tão próximas da Europa como agora; juntamente com os nossos parceiros estamos realmente ansiosos por mostrar ao mundo o que este pode beneficiar com a criação deste projeto”, afirma, com entusiasmo, o presidente da Panasonic Europa, Laurent Abadie.

Em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, o especialista em tecnologias verdes da Panasonic e um dos responsáveis pelo projeto, Roy Kobayakawa, vê com seriedade a desconfiança de empresários e formadores de opinião, que duvidam da viabilidade do projeto. “Não será um laboratório gigante”, diz. A nova cidade, segundo ele, usará apenas tecnologias e produtos já disponíveis no mercado.

Segundo o executivo, é exatamente isso que diferencia Fujisawa das outras comunidades sustentáveis espalhadas pelo mundo. Os projetos convencionais privilegiam o design, enquanto Fujisawa se baseia na necessidade do morador. “Não é um projeto piloto, é vida real. Vamos vender essas casas para pessoas que, de fato, vão morar lá”, explica Kobayakawa.