Pan-Gut

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 Pan-Gut: arte tradicional coreana que transcende os palcos

 Texto: Cibele Hasegawa

Fotos: Daniel Yonamine

O Centro Cultural Coreano no Brasil, em parceria com o Sesc Vila Mariana, trouxe pela primeira vez ao Brasil a companhia de dança Chukjae-ae ttang (Terra festiva) e seus talentos considerados patrimônios imateriais da Coreia do Sul. Em duas apresentações, realizadas em outubro, o grupo exibiu o Pan-Gut, um dos espetáculos coreanos mais aclamados no mundo.

Pan-Gut é um termo formado por duas palavras que carregam a estrutura e o significado da cultura tradicional coreana. ‘Pan’ era como os antepassados denominavam palco e tudo o que era nele representado. ‘Gut’ quer dizer cerimônia ou ritual. No entanto, seu significado não se limita unicamente às consagrações protagonizadas por xamãs, mas por “tudo aquilo que podemos captar visualmente”.

Neste encontro entre palco e cerimônia, a união entre música, movimentos, brincadeira e dança acontece de forma fluida. O local se transforma em uma área festiva, gerando naturalmente interações entre os artistas e os espectadores. “Isso expande o espetáculo, pois recebemos muita energia”, explicou Kim Woon Tae, mestre da dança tradicional coreana, que compõe o “elenco virtuoso” do grupo Chukjae-ae ttang.

É como se a reação do público transcendesse a expressão do dançarino a cada movimento. De acordo com o mestre Kim, a arte tradicional coreana é bastante peculiar, pois a presença do sentimento do artista é muito importante. “Às vezes sai algo espontâneo, por isso a equipe tem dificuldade de se programar”, contou, revelando em tom bem-humorado que ele se deixa levar pela sensibilidade do momento para expressar a sua arte.

 

A diretora geral do espetáculo, Shinah Kim, explica que o artista brinca com o ritmo em seus movimentos. Embora a espontaneidade possa soar como negativa para a equipe, que ensaiou de outro jeito, o lado positivo é que isso provoca um diálogo com o público. “A reação de quem está assistindo acende uma chama e traz essa explosão de emoção, que é bem característica da dança tradicional”, afirmou.

E como o Pan-Gut é um dos espetáculos mais empolgantes da tradição coreana, com uma ampla gama de performances, Kim Woon Tae afirmou que no Brasil essa combinação entre os artistas e a plateia foi perfeita. “Eu já sabia dessa paixão dos brasileiros, mas superou as minhas expectativas”, contou.

Se, para eles, a emoção já foi grande, quem estava do outro lado, na plateia, se surpreendeu ainda mais. Além dos movimentos artísticos que representam o retorno às raízes e o formalismo do ritual, o grupo mostrou ainda que tradição e modernidade fazem um casamento perfeito. Os elementos tradicionais fizeram uma incrível simbiose com as fortes batidas da música eletrônica, com direito até à música brasileira no repertório, para delírio da plateia. “Queríamos apresentar o passado, o presente e o futuro com o ritmo coreano e essa junção de culturas entre países, que considero muito importante”, contou a diretora geral.