Rituais Pós Morte     –      parte  I 

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No costume japonês é comum, quando a pessoa sai de casa ou local de trabalho para um compromisso externo, usar a expressão de despedida Itekimassu (vou e volto)  e a pessoa que fica,  responde Iteirashai (vá e volte). E também, quando recebemos uma visita, há pessoas que preferem sair pela porta que entrou.

Percebemos através destas atitudes, o conceito de que a vida caminha como se fosse um circulo, é necessário iniciar e fechar o compromisso. Assim, como um doente em fase  terminal no hospital, o seu ultimo pedido é que o leve para casa porém ele nunca diz que vai morrer.  Para o japonês, a casa é o principio da conexão espiritual através da família.

Há tempos passados, os velórios das famílias okinawanas eram realizados em casa, atualmente ocorrem em locais predeterminados. O falecido é vestido com a melhor roupa, como se fosse partir para uma grande viagem. No caso das flores no caixão, as rosas eram descartadas “pelos seus espinhos”, em muitos casos, havia famílias que tinham o costume de colocar alguns objetos de uso pessoal no caixão.

Em Okinawa os familiares mais chegados, colocam o Uchikabi (dialeto de Okinawa) que são papelotes com desenho de moedas representando dinheiro, em algumas regiões são colocados,  três lenços brancos dobrados em triangulo  alinhavados com linha branca sem dar o nó. No 1º  vai um maço de cigarro, no 2º pacote de chá e no 3º garrafinha de  saque, a agulha e linha vão juntos. Os objetos e o Uchikabi,  simbolizam presentes para que o falecido tenha algo para oferecer na outra vida.

 

Em Okinawa também, acreditam que quando morrem duas pessoas da mesma família em curto espaço de tempo haverá uma grande possibilidade de ocorrer uma terceira morte, para que isto não aconteça, é de costume colocar no caixão um boneco representando a terceira pessoa, deste modo a família se livrará deste infortúnio.

No velório, ao lado esquerdo do ataúde fica um aparador coberto com uma toalhinha branca, com o Shiro Ihai – “Tablita Branca” com o nome e a idade do falecido, um Koro – pote (recipiente com areia) onde se acende um incenso por pessoa e uma caixa para serem colocados os Koden – envelope com dinheiro, que os familiares e amigos ofertam para ajudar nas custas do enterro. Quem oferece o incenso aceso para as pessoas, é a mulher mais próxima do falecido.

Após o enterro, os familiares mais chegados, retornam à casa do falecido levando o Shiro Ihai e o Koro, para dar início aos preparativos dos rituais religiosos, é de costume a família ir ao túmulo após o enterro, durante três dias seguidos. Os espelhos, quadros e também dependendo dos móveis da casa, são cobertos com um pano branco. O Shiro Ihai, que representa o espírito do falecido, tem uma representação muito forte para os okinawanos, que acreditam no espírito presente.

 

Durante (49) quarenta e nove dias ou (7) sete semanas, são realizadas as missas – Suko em casa, as principais são: 1ª semana, 3ª, 5ª e a 7ª que é a ultima missa. O Shiro Ihai e o Koro, são colocados sobre uma mesa coberta com uma toalha branca, é oferecido todos os dias o café da manhã, almoço e a  janta como que  se o espírito estivesse presente na casa, e acende se um senkô para o espírito se conscientizar da sua passagem para o mundo espiritual. Ao lado da mesa, sobre uma cadeira  colocam se as roupas e os pertences pessoais do falecido.

 

Shinji Yonamine

Palestrante da Cultura e Tradições de Okinawa

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