Japoneses e descendentes participam de folia brasileira 

 Texto: Tamires Alês / Fotos Daniel Yonamine e Divulgação  

 Animação, sorriso no rosto e samba no pé não faltam para essa turma. Eles dançam, desfilam e cantam a plenos pulmões. Se antes tinham uma participação mais tímida na maior festa de rua do Brasil, nos últimos anos os japoneses e descendentes têm marcado presença no Carnaval brasileiro, especialmente no paulista, desfilando em diversas Escolas, do Grupo Especial ao Acesso, na capital e no interior.     

A mais famosa representante da comunidade é a apresentadora, atriz e humorista, Sabrina Sato, que desde 2003 é presença confirmada e aguardada no carnaval brasileiro. A musa desfila pelo décimo quarto ano consecutivo como madrinha da bateria no Grêmio Recreativo e Cultural Escola de Samba Gaviões da Fiel, em São Paulo, e pela oitava vez como rainha de bateria no Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos de Vila Isabel, no Rio de Janeiro. Além de ser rainha do baile Glam Gay 2018, que acontece na quadra do Grêmio Recreativo Escola de Samba São Clemente, no Rio, e musa do Camarote N1 dentro do Sambódromo da Marquês de Sapucaí.   

 Em declarações a imprensa, a apresentadora sempre enaltece o amor que tem pela festa. “O Carnaval é a época que eu mais amo, fico muito ansiosa esperando por esse momento. Eu me divirto a todo instante, fico realmente emocionada não só no desfile, mas também na preparação, na apuração, em todos os momentos. Cada vez que piso na avenida é uma experiência única e muito gratificante”, ressalta.  

 Durante o ensaio da Gaviões da Fiel, em São Paulo, Sabrina adiantou que sua fantasia para o Carnaval 2018 não terá penas. “Não venho com pena. Abri mão da pena. Sempre usei pena sintética, mas dessa vez não vai ser nem sintética. O resto é surpresa”, conta.   Também apaixonada pelo samba e pelo Carnaval brasileiro, a japonesa Miku Oguchi viaja ao Brasil há vários anos para participar dessa grande festa popular. Em 2015 desfilou pela primeira vez no Carnaval paulista pelo Grêmio Recreativo, Cultural e Social Escola de Samba Águia de Ouro, onde ficou até 2017.   

Neste ano, Miku será Musa dos Compositores do Grêmio Recreativo, Cultural Escola de Samba Unidos do Peruche e as expectativas são as melhores: “Estou muito feliz e muito grata por esse convite tão especial da Escola. É muita responsabilidade, mas vou dar o meu melhor na avenida”, conta.  

 Para Miku, cada momento do Carnaval é muito especial, mas o melhor, em sua opinião, são os ensaios. “Gosto de estar próxima da comunidade, de sambar na quadra da escola, junto com todos aqueles que vivem o Carnaval o ano inteiro”, revela Miku. “Eu vou em todos os ensaios, porque esta é minha maneira de demonstrar todo meu respeito e amor pela Escola e pelo samba”, completa.

  Há 10 anos morando no Brasil, a japonesa Joe Kasai também desfila na Unidos do Peruche em 2018. Professora de samba em terras brasileiras, Joe não desfilará sozinha este ano. Mais de 50 japoneses, entre adultos e crianças, a maioria suas alunas, também estarão presentes no Anhembi. “Já desfilei em diversas escolas tanto do Rio quanto de São Paulo, mas este ano será especial, pois estarei ao lado das minhas alunas. Fico muito feliz e emocionada em ver a evolução e poder dividir esse momento com elas na avenida”, exalta.  

 Joe também é rainha do Bloco carioca “Bunda Rachada”, princesa do Grêmio Recreativo, Esportivo, Social, Cultural Escola de Samba Isso Memo, do Grupo 4 do Carnaval paulista, e recebeu o prêmio “Agulha de Ouro”, do concurso Miss UESP (União das Escolas de Samba Paulistanas) 2018. 

 Já o Grêmio Recreativo, Cultural, Social Escola de Samba Império de Casa Verde recebe pelo 13º ano consecutivo o empresário japonês, Tsubasa Miyoshi, que desfila no Sambódromo como mestre-sala. “Sou o único mestre-sala japonês em todo o carnaval brasileiro. É muita responsabilidade, não posso errar nunca”, afirma.  

 Assim como Joe, Tsubasa leva para a avenida algumas alunas. “Esse ano seis alunas minhas desfilam no quinto carro da escola. Há uns seis anos eu realizo esse trabalho de intercâmbio entre o Brasil e o Japão, trazendo minhas alunas japonesas para conhecer de perto a festa brasileira”, explica o mestre-sala que além de ter uma loja de fantasias de carnaval no Japão, dá aulas de samba por lá.

  

E não é só no Grupo Especial que os japoneses marcam presença. No Grêmio Recreativo, Cultural, Beneficente Escola de Samba Brinco da Marquesa, que este ano desfila no Acesso 2, uma ala inteira será composta por nikkeis.  

 “O samba enredo ‘A Marquesa e o Ouro Verde’ falará sobre o café e a importância dos imigrantes no trabalho nas lavouras. Por isso, organizamos uma ala com cerca de 60 nikkeis para representar os nossos antepassados imigrantes japoneses, que chegaram ao Brasil e foram levados diretamente às fazendas de café, onde atuaram com muita raça e perseverança”, explica o coordenador da ala, Diogo Miyahara.  

 No interior de São Paulo, o Japão também marca presença no Carnaval bauruense. O Grêmio Recreativo, Esportivo, Sócio Cultural Escola de Samba Mocidade Unida da Vila Falcão apresentará o tema “Ten Riquezas na Terra das Cerejeiras”.  

 “O enredo vai comemorar o 50º aniversário das cidades irmãs Tenri-Bauru”, explica o conselheiro da Escola e responsável pelo enredo, Ricardo Carrijo. “No Sambódromo vamos mostrar as origens, tradições e aspectos culturais do Japão, também apresentaremos um Japão moderno e tecnológico, e claro, a relação de amizade entre as duas cidades”, completa Carrijo.  

 

 Bety Trindade responsável pelas fantasias e adereços da Águia de Ouro em São Paulo, usou toda a sua experiência com a temática japonesa para produzir as fantasias da Escola de Bauru e adianta alguns detalhes do desfile: “O projeto ficou lindo. Nas baianas, nos inspiramos nas cerejeiras para enfeitar suas saias rodadas, e os membros da bateria sairão de tocadores de taikô”, revela.  

 A Mocidade Unida de Vila Falcão é bicampeã do Carnaval bauruense e entra na avenida em busca do tricampeonato.  

 Outros carnavais 

 O Japão, suas peculiaridades, costumes e histórias já marcaram presença em quatro carnavais paulistas. A primeira vez que a temática ganhou os foliões foi em 1983, durante o desfile da Sociedade Recreativa, Cultural, Social, Esportiva e Beneficente Faculdade do Samba Barroca Zona Sul, que desfilou com o enredo “75 anos de imigração japonesa no Brasil (O Reino do Sol Nascente)” e conquistou o sexto lugar.  

 Em 1998 foi a vez do Grêmio Recreativo, Cultural e Social Escola de Samba Vai Vai falar sobre a imigração japonesa no Brasil, que comemorava 90 anos. O enredo escolhido foi o “Banzai Vai Vai”, que tinha como principal objetivo a integração entre as duas nações. O samba conquistou o público e os jurados, e a escola da Bela Vista foi campeã do carnaval paulista.  

 Dez anos depois, a temática voltou a aparecer no Sambódromo do Anhembi, dessa vez para celebrar o centenário da imigração japonesa no Brasil. Com o samba “Irashai-Mase, milênios de cultura e sabedoria no centenário da imigração japonesa”, o Grêmio Recreativo, Cultural e Social Escola de Samba Unidos de Vila Maria ficou com o terceiro lugar da competição.  

 Já em 2015 foi a vez da Águia de Ouro levar para a passarela do samba a temática japonesa. Com o enredo “Brasil e Japão – 120 anos de União”, a agremiação da Pompeia evidenciou toda a magia, modernidade e tecnologia do Japão para celebrar os 120 anos de Tratado de Amizade, Comércio e Navegação Brasil-Japão. A escola ficou com a quarta colocação.  

Folia na Liberdade 

 No final de semana que antecedeu o Carnaval, o bairro mais oriental de São Paulo recebeu pela primeira vez um Carnaval de rua. Blocos desfilaram pelas vias da Liberdade e reuniram milhares de foliões em três dias de festa.  

 O primeiro bloco a desfilar, no dia 02 de fevereiro, foi o do Faísca, que invadiu as ruas do bairro com a temática coreana, destacando o K-Pop e o Taekwondo. No dia 03 foi a vez do Bloco Eco Campos Pholia, levar a temática dos 110 anos da imigração japonesa ao Brasil para as ruas do bairro, acompanhado do taikô, típico tambor japonês e do shishi-mai, dança do leão de Okinawa. Para encerrar a festa na Liberdade, o Bloco Fuzuê trouxe, no dia 04, a temática chinesa/taiwanesa, com a dança do leão e do dragão chinês.     

 Para abrilhantar ainda mais a festa, os blocos contaram com musas da comunidade e do carnaval oriental como Miku Oguchi, Elga Yuri Shitara e Ariennes Kawahira.  

 Os blocos saíram da rua Galvão Bueno, passaram pela rua dos Estudantes, Conselheiro Furtado, rua Conde do Pinhal, da Glória, Estudantes novamente, encerrando o desfile de volta à rua Galvão Bueno.  

 “Nós queremos que esse seja o primeiro de muitos carnavais na Liberdade. Nossa ideia é oficializar o projeto e a festa no bairro”, revelou o coordenador geral do projeto, Diogo Miyahara. “Além de trazer essa grande festa brasileira para as ruas do bairro, o nosso projeto também teve um cunho social. Todos os abadás foram trocados por um quilo de alimento não perecível, que foram doados para entidades assistenciais”, finaliza Miyahara. 

Integrantes das entidades orientais e diretores dos blocos de carnaval

 

Tem Carnaval no Japão  

 Não queridos leitores, não enlouquecemos. Tem Carnaval no Japão, e mais, é o maior carnaval de rua fora do Brasil. A festa teve início em 1981 e atualmente reúne mais de 15 escolas de samba e mais de 5000 sambistas, percussionistas e passistas que desfilam pelas ruas de Tóquio no já tradicional “Asakusa Samba Carnival”.   

 O festival nasceu com o objetivo de celebrar e fortalecer o elo existente entre as comunidades japonesa e brasileira, cujos laços se iniciaram a partir da assinatura do Tratado de Amizade, Comércio e Navegação, em 1895 e se fortificou com o início da imigração japonesa ao Brasil, em 1908.  

 “Milhares de pessoas se deslocam de diversas regiões do Japão e se aglomeram nas ruas de Asakusa para conferir o evento, que acontece sempre no último sábado de agosto”, conta Tsubasa Miyoshi, que desde 2004 desfila como mestre sala no carnaval japonês, pela Escola de Samba Liberdade.  

 Desde 1981 o festival tem sido realizado todos os anos. “Só em 2011 a festa foi cancelada devido ao impacto do grande terremoto de Tohoku”, explica Tsubasa.  

 O evento conta com carros alegóricos, bateria e, claro, sambistas emplumadas. Como no Brasil as escolas são dividias em grupos (especial, acesso) e são julgadas por um grupo de jurados que define a grande campeã de cada ano.  

 “Apesar de menor, o carnaval no Japão é muito parecido com o brasileiro”, conta Miku Oguchi, que há nove anos participa da festa japonesa, e atualmente desfila como destaque na Escola de Samba Liberdade. “O maior diferencial na minha opinião é o público. No Brasil, a energia e a vibração do público são indescritíveis. Os brasileiros são muito animados”, revela a passista.   

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 Além dos japoneses a festa conta ainda com a participação de alguns sambistas do Rio de Janeiro e de São Paulo, que vão até o Japão participar e prestigiar o evento. Uma das escolas que marca presença há muitos anos na festa é a paulista Águia de Ouro.  

 “Nosso primeiro contato com a terra do sol nascente foi em 1986, quando fomos convidados para fazer a inauguração de um parque de diversão em Okayama. Ficamos dois meses por lá, com 35 membros da Águia de Ouro”, conta o presidente da Escola, Sidnei Carriuolo. “Desse primeiro contato com a cultura e as terras japonesas surgiram outros projetos. Em 2000 recebemos a visita da ritmista Midori, uma estudiosa da cultura brasileira, que nos fez o convite para irmos ao Japão realizar um workshop com as escolas e sambistas japoneses de Asakusa”, lembra.  

 “E de lá para cá, todos os anos realizamos esse intercâmbio. Nós vamos para o Japão, e muitos integrantes das escolas japonesas vêm ao Brasil para aprender mais sobre o samba e o carnaval e para desfilar aqui”, explica o presidente da Águia.  

 “Nos últimos anos, nós passamos a abrir o Carnaval de Asakusa, somos o primeiro contingente a passar pela avenida. Nós distribuímos camisetas e animamos o público para os desfiles em si”, revela. “É um projeto que existe há mais de 10 anos e que esperamos que continue por muitos outros carnavais”, completa Sidnei.   

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 E os projetos da Águia envolvendo a terra do sol nascente também acontecem aqui no Brasil, em parceria com a comunidade nipo-brasileira. “Esse ano, a imigração japonesa ao Brasil completa 110 anos e como temos essa ligação com o Japão já estamos preparando um projeto para comemorar a data, uma homenagem a esse povo tão fantástico. Fiquem ligados que vêm novidades por aí”, finaliza Sidnei.