Comunidade: Cidadão Paulistano

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Em entrevista a Mundo Ok, o Cônsul Geral do Japão, Takahiro Nakamae fala sobre o título e as relações bilaterais entre Brasil e Japão 

Fotos Daniel Yonamine

Vereador Masataka Ota e cônsul geral do Japão Takahiro Nakamae
Vereador Masataka Ota e cônsul geral do Japão Takahiro Nakamae

No dia 09 de setembro, às 19h, acontece no Palácio Anchieta, sede do Legislativo de São Paulo, a entrega do título de cidadão paulistano ao Cônsul Geral do Japão, Takahiro Nakamae. A honraria foi concedida pelo vereador de São Paulo, Masataka Ota.

Segundo o vereador o cônsul tem feito muito pela comunidade japonesa de São Paulo, sobretudo pelo fortalecimento dos Bunkyos e Kaikans. “Ele mostra o Japão moderno aos filhos, netos e bisnetos de japoneses que vivem em São Paulo. Atende a todos com uma gentileza e humildade, apesar de todos os títulos e protocolos que o cercam. Além de reunir atributos que o Japão tem a oferecer de melhor: o conhecimento e a experiência que nos aprimora, tornando-nos pessoas melhores”, ressalta Ota.

Nascido em Hiroshima, em 1960, o Cônsul Geral do Japão está no Brasil há três anos, antes do consulado de São Paulo atuou como Ministro na Embaixada do Japão em Brasília. Bacharel em Direito pela Universidade de Tóquio, Takahiro Nakamae já atuou na Embaixada do Japão na Espanha, no México, na Argentina e no Iraque, além de ter sido Ministro da Missão Permanente do Japão nas Nações Unidas e ocupado outros cargos relevantes.

Casado e com três filhos o Cônsul têm um dia a dia corrido. “Temos grandes responsabilidades no consulado, realizamos muitas viagens pelos estados participando de reuniões e eventos”, conta.

Em seu escritório, Takahiro Nakamae recebeu a equipe da Revista Mundo Ok e em um bate-papo descontraído falou sobre a honra de receber um título tão importante, seu trabalho no consulado geral do Japão em São Paulo e destacou as ações de fortalecimento das relações entre o Brasil e o Japão. Confira, a seguir, a entrevista exclusiva.

Mundo OK: Qual a importância de receber o título de cidadão paulistano?

Takahiro Nakamae: Uma honra imensa receber um título tão distinto. Minha gratidão ao vereador Ota por essa iniciativa. Um motivo alentador para eu me dedicar com ainda mais esforços para ampliar as relações bilaterais entre Brasil e Japão. Estou gratamente surpreendido, porque eu estou a apenas um ano exercendo minha função no cargo, é algo excepcional saber que o meu trabalho está sendo reconhecido em tão pouco tempo. Entendo esse fato como uma mensagem da comunidade japonesa, representada pelo vereador, no sentido que terei que trabalhar ainda mais. Ao mesmo tempo em que me sinto honrado, sinto que tenho ainda mais responsabilidade.

MOK: O ano de 2015 foi bem emblemático devido às comemorações dos 120 anos de Tratado de Amizade entre o Brasil e o Japão. O senhor poderia falar sobre os principais projetos de cooperação entre os dois países, tanto na área econômica como comercial?

Nakamae: Os dois países compartilham uma história muito longa. Em 1867 o Japão começou a abrir o seu mercado para o exterior, menos de 30 anos depois dessa abertura já assinou o Tratado de Amizade com o Brasil, em 1895. O Brasil foi um dos primeiros países que o Japão começou a se relacionar e, atualmente, é a nação com a melhor relação de amizade com o Japão. Da assinatura do Tratado para cá, já desenvolvemos diversos projetos de cooperação como o Programa de Cooperação Nipo-Brasileira para o Desenvolvimento do Cerrado – PROCEDER; a Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais S.A. – Usiminas, uma joint venture nipo-brasileira; o projeto de desenvolvimento conjunto da Companhia Vale do Rio Doce, atual Vale e várias empresas japonesas, que criaram a Celulose Nipo-Brasileira S.A. – Cenibra. São grandes projetos realizados após a Segunda Guerra Mundial. Com eles, conseguimos confirmar os nossos laços de união, de interesse e de valores comuns. Na área comercial, o Japão é o segundo principal parceiro comercial do Brasil na Ásia, e o quinto principal destino no mundo das exportações brasileiras.

MOK: Atualmente, quais são os principais projetos que visam o fortalecimento das relações entre os dois países?

Nakamae: Temos vários projetos em andamento, inclusive, cooperações que visam tornar o mundo melhor. Por exemplo, estamos trabalhando juntos em defesa da reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas; no ProSavana – Programa de Cooperação para o Desenvolvimento Agrícola da Savana Tropical de Moçambique, aplicando a experiência de sucesso do Cerrado brasileiro na África; estamos divulgando o resultado da parceria tecnológica do sistema nipo-brasileiro de TV digital (ISDB-T) em países da América do Sul e da África; na área de segurança pública, está sendo utilizado em todo o país o sistema japonês de policiamento de proximidade, conhecido como Koban, uma espécie de polícia comunitária. E depois do sucesso do programa no Brasil, os dois países estão trabalhando juntos para divulgar em outros países da América Latina como El Salvador, Honduras e Guatemala. Estamos juntos trabalhando para aplicar nossa experiência em outros países, contribuindo para o bem da comunidade internacional.

MOK: Além das relações econômicas e comerciais, a imigração é outro pilar que sustenta as relações bilaterais, certo? Como o senhor vê a comunidade japonesa aqui no Brasil?

Nakamae: Junto com os grandes projetos de cooperação e as relações comerciais, a imigração forma os três pilares que sustentam as relações bilaterais entre os dois países. O Brasil é o país com a maior comunidade fora do Japão, são 1,9 milhões de pessoas, e já estamos na sexta geração no país. É um patrimônio histórico muito grande. Eu já atuei em diversos países, e de visita conheço todas as nações sul-americanas e caribenhas e posso dizer que a comunidade japonesa no Brasil é a mais diferente. Aqui, o orgulho e a manutenção das tradições japonesas é algo acalentador. O Brasil, por ser um país multiétnico, recebeu os imigrantes de braços abertos, acolheu a comunidade e a cultura japonesa de uma maneira incrível, aceitou e integrou como parte da vida dos brasileiros, o que não acontece em outros países. Um grande legado e um tesouro dos imigrantes japoneses que souberam se integrar a sociedade brasileira e conseguiram divulgar as tradições e os costumes japoneses. Por isso tenho um grande e profundo respeito pela comunidade nipo-brasileira.

MOK: Esse ano acontecem os Jogos Olímpicos e Paralímpicos no Rio de Janeiro, outro evento importante já que antecedem os Jogos de Tóquio… Mais uma oportunidade de fortalecer as relações entre os dois países?

Nakamae: Agora as relações entre os dois países estão entrando em uma nova fase. Nos próximos quatro anos, o intercâmbio esportivo será o foco. Estamos trabalhando mirando os Jogos com a campanha “Sport for tomorrow”, com o sentido do esporte para fazer um mundo melhor. Já visitei comunidades carentes aqui em São Paulo e fizemos entrega de uniformes como quimonos de judô e chuteiras de futebol. Nosso sonho é que esses meninos e meninas possam participar dos Jogos Olímpicos, em 2020.

MOK: Para finalizar, em 2017 está prevista a inauguração da Japan House, quais as expectativas para esse projeto?

Nakamae: As expectativas são as melhores. A Japan House será uma apresentação do que é o Japão atualmente, o Japão real, um Japão legítimo, para os brasileiros que não conhecem o país, nem a sua cultura. Montamos a melhor equipe possível para entregar um grande projeto para o Brasil. As obras já estão acontecendo e a nossa meta é inaugurar em março do ano que vem. A Japan House também é uma forma de manter viva a cooperação entre os dois países, integrando as novas gerações de descendentes japoneses, que são, em sua maioria, mestiços, mantendo os fortes laços entre os dois países.