Editorial: Disparidades

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No ano tão simbólico em que se comemoram os 120 anos do tratado de amizade entre Brasil e Japão, pouco coisa mudou na comunidade nipo-brasileira. Tirando as festas (que já estão presentes no calendário cultural das entidades), cujo “selo oficial” das comemorações está em praticamente todas, pouco se fez em prol desta data…

Tenho percorrido muitos eventos, associações e entidades durante os últimos anos. Por conta de compromissos com a Revista Mundo OK e outros projetos, nosso trabalho é estreitar relacionamento com lideranças, representantes, enfim, ouvir as comunidades e colher informações de interesse para divulgação. Nessas visitas – tanto em São Paulo quanto em outros municípios – fica evidente as dificuldades de se manter uma entidade, cuja principal finalidade é manter o espírito harmonioso e reunir famílias que fazem parte de um mesmo círculo social. Através de um modelo arcaico e adotado desde a época dos primeiros imigrantes, esse processo de se manter ativa uma associação torna-se cada vez mais complicado. E desinteressante.

A consequência disso é o enfraquecimento coletivo. Se antes era primordial participar de atividades sociais dentro de uma entidade, hoje já não há motivação. Não falo de todas, claro, mas grande parte não mais enxerga oportunidades para evoluir, de inovar e, muito menos, de planejar ações ousadas. Afinal, toda iniciativa que ouse traz riscos. E, se não há tanto interesse mais, para quê “esquentar a cabeça”.

Há, sim, maneiras de ajudar sua entidade. Seja sugerindo melhorias, planejando uma grande ação beneficente ou estruturar o local através de departamentos. Na parte burocrática, muitos nem imaginam, mas é possível isentar as associações de alguns tributos, como o IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano), caso seja comprovado que é sem fins lucrativos. Se montar um evento, nada impede de, pelo menos, pedir parte da estrutura ao poder público, que sempre apóia projetos da comunidade. Enfim, há uma série de questões que podemos realizar. Mas, no fim das contas, tudo isso é trabalhoso. E, nesse aspecto, quanto menos dor de cabeça, melhor. Portanto, os 120 anos de tratado representam mais os esforços dos imigrantes e de ambos os países para uma cooperação mútua, do que para o fortalecimento de uma comunidade.

Boa leitura.

Rodrigo Meikaru

Redator-Chefe