Cartas Pokémon

Confira o jogo que é febre novamente no Brasil, atrai crianças, adolescentes e adultos e que vai muito além de uma simples brincadeira

 

 

No mundo das cartas Pokémon

 

Conheça o jogo e todo o universo que o envolve, dos torneios aos colecionadores, e seus principais benefícios para crianças e adolescentes

 

Texto: Tamires Alês / Fotos: Daniel Yonamine e Divulgação

 

 

Lá nos idos da década de 1990, crianças e adolescentes de todo o mundo se encantaram com criaturas, de todas as formas e tamanhos, que viviam na natureza ou ao lado de humanos, chamadas de Pokémon. Todos acompanhavam atentos suas aventuras, evoluções e batalhas. O desenho foi febre na época e até hoje Pikachu, Snorlax, Charizard e toda a turma, de mais de 700 criaturas que habitam esse universo, continuam fazendo sucesso e gerando cifras milionárias.

 

Lançado no Japão, em 1996, pela The Pokémon Company, o Pokémon é hoje uma das propriedades de entretenimento infantil mais populares do mundo, com uma família de produtos, que inclui videogames, Pokémon Trading Card Game, as séries de TV de animação, filmes, brinquedos e muito mais. A franquia está no topo da lista de mídia com maior bilheteria de todos os tempos no mundo, com uma receita total de mais de US$ 92 bilhões. Só em 2018, a empresa faturou US$ 795 milhões.

 

No Brasil, os monstrinhos estouraram no final da década de 1990 e de lá para cá a franquia tem passado por diversas “febres”. A mais recente foi impulsionada por uma série de lançamentos, como o jogo para smartphones Pokémon: Go, que chegou a reunir 130 milhões de jogadores em todo o mundo, a disponibilização das animações em plataformas de streaming, como a Netflix, e o novo filme Detetive Pikachu.

 

Com a franquia em alta, as atenções também são voltadas para um velho amigo da marca: o Pokémon Trading Card Game – TCG ou, no Brasil, Pokémon –  Estampas Ilustradas, jogo de cartas Pokémon que marca presença por aqui há mais de 20 anos e é responsável por reunir crianças (adolescentes e adultos) ao redor de boosters com cards, os famosos pacotinhos com as cartas, vendidos em bancas de jornal, livrarias, lojas de brinquedos, entre outros estabelecimentos.

 

  O Jogo

No jogo de cartas Pokémon, os jogadores constroem decks (baralhos) com os seus Pokémon favoritos e jogam uns contra os outros, enviando seus Pokémon para a batalha para provar quem é o melhor treinador de Pokémon. As cartas são muito bem ilustradas, coloridas, brilhantes e divididas em categorias: comuns, incomuns, raras, ultrarraras e secretas. E cada uma é de um tipo, além dos monstrinhos em si, há cartas de “treinador”, “energia”, “suporte” e “estádio”. As cartas ainda envolvem níveis de poder, atributos, especificidades e descrições detalhadas.

 

Os jogadores podem começar com decks temáticos (baralhos pré-construídos) projetados para cobrir o básico do jogo. Depois, podem aumentar suas coleções de cartas com boosters que fornecem mais cartas, permitindo que os jogadores desenvolvam decks mais diversos. Um deck inicial completo, com 60 cartas, custa em média R$ 39,90 e os boosters, com 6 cartas, em torno de R$ 6,99.

 

Com milhares de cartas a disposição, o jogo nunca é o mesmo duas vezes. E como as cartas são lançadas em regime de temporada, o jogo não tem fim, ele continua evoluindo e se expandindo para jogadores e colecionadores, o que garante a manutenção e renovação do público. “Lançamos, aproximadamente, quatro expansões por ano, simultaneamente com o restante dos países ocidentais”, explica o analista de produtos da Copag – empresa que produz e distribui as cartas Pokémon por todo o Brasil –, Edgar Shinagawa. “O próximo lançamento é no início de fevereiro, com a coleção ‘Espada e Escudo’, inspirada no game ‘Pokémon Sword & Pokémon Shield’, lançado recentemente para Nintendo Switch. A nova expansão vai contar com mais de 200 novas cartas”, detalha. Desde 2011, quando a Copag iniciou a produção do jogo, já foram lançadas 41 expansões.

 

A The Pokémon Company, que administra a franquia mundialmente, estima já ter vendido 27,2 bilhões de cartas desde o lançamento do jogo em 1996. A Copag não divulga números, mas afirma que as vendas vêm crescendo continuamente desde o início da produção nacional do jogo. “É um mercado que vem crescendo bastante e acredito que a tendência é seguir esse caminho, já que é um produto estabilizado no Brasil e no mundo”, comenta Shinagawa. Segundo ele, o público é bem diverso, uma vez que o jogo atinge diversas faixas etárias.

 

Além das cartas, outros produtos envolvem o universo do card como fichários para guardar as cartas, sleeves (saquinhos protetores), playmat (tapete para dispor as cartas), moedas personalizadas, caixas e latas temáticas. “Comercializo diversos produtos da linha Pokémon, mas os booster são os mais vendidos”, conta o empresário Fabiano Shiokawa, que há mais de cinco anos lida com Pokémon TCG. “Meu público é bem amplo, varia de crianças a partir de uns cinco anos até adultos que participam dos campeonatos”, completa.

 

  Torneios no Brasil e no mundo

Muito além de uma brincadeira entre amigos, o Pokémon TCG é um jogo com ligas profissionais e campeonato mundial, com premiações milionárias, que podem variar de R$ 5 mil nas ligas menores, a US$ 500 mil nos grandes torneios, como o mundial.

Conhecido como Pokémon World Championships, é realizado pela The Pokémon Company, e pela primeira vez acontecerá fora da América do Norte. Em 2020, a competição será entre os dias 14 e 16 de agosto, em Londres, na Inglaterra, onde os melhores treinadores Pokémon disputam o título de campeão do mundo.

 

No Brasil, a Copag organiza, junto com a The Pokémon Company International – que gerencia a franquia fora da Ásia – torneios e ligas oficiais por todo o país, os chamados Latin America Regional Championships e o Latin America International Championships – LAIC.

 

“O último internacional foi realizado em novembro de 2019, em São Paulo, e reuniu mais de mil participantes de várias partes do mundo”, conta Shinagawa. “Já nos dias 25 e 26 de janeiro, tivemos também em São Paulo, o primeiro regional do ano. Os demais acontecem nos dias 28 e 29 de março, em Joinville (SC) e nos dias 30 e 31 de maio em Fortaleza (CE)”, enumera.

 

“Esses torneios reúnem pessoas de todas as idades, que são separadas em três divisões: Júnior, nascidos em 2009 ou mais; Sênior, nascidos em 2005, 2006, 2007 ou 2008; e Masters, nascidos em 2004 ou antes”, explica o representante da Copag.

 

Entre os jogadores mais famosos da atualidade, Shinagawa destaca o norueguês, Tord Reklev, vencedor de três torneios internacionais; o francês, Stéphane Ivanoff, vencedor de dois internacionais da América do Norte; o argentino, Diego Cassiraga, campeão mundial de 2018; e o brasileiro, Gustavo Wada, principal nome do cenário nacional competitivo e único brasileiro a conquistar um título mundial (na categoria Júnior, em 2011).

 

Ao longo de sua carreira, que teve início em 2008, competitivamente em 2009, Wada coleciona vitórias, são mais de 25 títulos. Atualmente, o jovem representa a Team Innova e já participou de mais de 10 torneios mundiais. Além do apoio incondicional dos pais, os amigos e a comunidade têm papel importante em sua vida: “A comunidade é incrível, todo mundo é amigo fora do jogo, a competitividade fica só dentro dos torneios”, conta Wada, que tem no Sableye, um de seus Pokémon favoritos e sempre compartilha sua experiência com outros jogadores.

 

Além dos eventos oficiais, a Copag também organiza, junto aos lojistas, ao longo de todo o ano, eventos diversos como Encontros, Troca de Cards, Aprenda a Jogar, Mini-Torneios, entre outros.

 

 

Os Colecionadores

Para muitos, uma brincadeira de infância, para tantos outros uma paixão, que segue firme também na fase adulta. Bruno Zuppone, de 31 anos, é um dos que levou a brincadeira mais a sério. Conheceu o jogo em 1999, época em que jogava com os amigos e primos, e conquistou seus primeiros cards. Mais de 20 anos depois, o jovem coleciona mais de 10 mil cartas Pokémon. “Tenho, pelo menos, uma carta de cada coleção. Da primeira, só falta uma única carta para eu completar toda a coleção”, conta Zappone, que compartilha o seu hobby em sua página no youtube: O Colecionador, e realiza encontros, em parceria com a Copag, voltado para a troca de cartas.

No universo da coleção, as figuras podem custar até mais de R$ 1 mil e movimentam um mercado a parte. “Vi esses dias que um dos cartões Pokémon mais raros do mundo, um Pikachu Illustrator, foi vendido por US$ 195 mil em um leilão em Lynbrook, Nova York”, revela Zuppone. Além da raridade, a carta tem que ter um bom PSA, notas dadas aos cards de acordo com o seu estado. “O PSA avalia se tem alguma dobra, risco ou amassado na carta, quanto mais intacta ela estiver, maior o PSA e, consequentemente, maior o valor do card”, esclarece o colecionador.

 

Não existe uma regra para montar a sua coleção, cada um segue uma linha. “Eu gosto de colecionar meus Pokémon favoritos. Por exemplo, eu gosto muito do Charizard, então, tudo o que sai dele eu tenho”, revela Anderson Holanda Dantas, de 27 anos, responsável pelo canal do Youtube Estação HD, onde dá dicas e fala sobre as novidades e curiosidades do universo Pokémon. “Não tenho nem noção de quantas cartas ao todo eu já tenho, mas só de cartas raras, são mais de 300”, relata. Além do canal, Dantas já narrou partidas do torneio internacional e sempre realiza, em parceria com a Epic Games Store, Encontro de Fãs e abertura de novos produtos.

 

Para quem deseja seguir os passos dos jovens e montar suas coleções eles dão algumas dicas: “Tem que ir com calma e ter paciência para conseguir as cartas desejadas e ir ampliando sua coleção. Também é importante saber o valor das cartas para realizar trocas justas e sempre estar em contato com outros colecionadores para realizar essas trocas”, ressalta Zuppone. “Vá em uma loja especializada para entender melhor o jogo e decidir quais cartas comprar, e assista o meu canal e de outros youtubers especializados para tirar as dúvidas e pegar boas dicas”, completa Dantas.

 

 

Pokémon na Educação

Há mais de 20 anos, crianças de todo o mundo descobriram o mundo encantador dos Pokémon. Mas, além do lado lúdico, os cards podem colaborar com o processo formativo das crianças, já que o jogo incentiva o pensamento estratégico, habilidades matemáticas, a leitura e interpretação de texto. Além de enfatizar o espírito esportivo e o respeito pelos outros jogadores.

 

Benefícios esses que a professora Ingrid Duran percebeu assim que conheceu as cartas, há alguns anos, durante o Festival do Japão. Depois de começar a praticar, ela resolveu levar o jogo para a Escola Estadual Professor Octacilio de Carvalho Lopes, em Arthur Alvim, zona Leste da capital paulista, onde leciona. “Implantamos o jogo como um projeto extracurricular, com foco socioemocional. Recebemos doações da Copag e de pessoas que não jogavam mais. No início tínhamos 15 alunos participando. Um ano depois já formamos três turmas, um total de cerca de 120 alunos do Ensino Médio, entre 15 e 17 anos”, explana.

 

“O jogo trabalha várias habilidades nos alunos como protagonismo, companheirismo, integração e amizade, além de colaborar com a leitura, cálculos e a prática de outros idiomas, como o inglês”, detalha. “Eu acredito que todas as crianças e adolescentes precisam conhecer esse jogo, sair um pouco do videogame, dos tablets e celulares e passar a interagir mais com outras pessoas e fazer novas amizades”, completa.

 

Além da prática, a escola também organiza, todo o bimestre, um campeonato para toda a comunidade, e os alunos também participam de torneios oficiais, como o LAIC. “Este ano vamos dar continuidade ao projeto, e os próprios alunos que vão ensinar quem está começando”, conta Ingrid.

 

Digital x Real

As amizades e interações são ponto alto do jogo, o que explica, em um mundo digital, tantas pessoas ficarem horas e horas se divertindo com um jogo de cartas, no melhor estilo offline. “Mesmo com a versão online do jogo, a maioria dos jogadores preferem as cartas. A versão digital é mais utilizada para treinar estratégias e conhecer novos cards”, explica Ingrid. Wada concorda: “O pessoal não gosta do online, prefere o presencial para poder encontrar os amigos, ter toda a sensação de pressão do jogo e o espírito competitivo”, ressalta.

 

Em uma época de poucas interações e brincadeiras reais cada vez mais escassas, os cards têm recuperado a essência das brincadeiras entre a garotada. Vida longa às Estampas Ilustradas!