No auge dos seus 65 anos, o espaço pretende inovar na programação de eventos e atividades sem, é claro, perder toda a tradição que o permeia

 

Texto: Tamires Alês / Fotos: Daniel Yonamine

 

Localizado dentro do Parque do Ibirapuera – um dos parques mais importantes e conhecidos de São Paulo, referência como área verde e polo cultural do estado – o Pavilhão Japonês se destaca como um agradável recanto de paz e tranquilidade em meio a caótica metrópole. Inaugurado em 1954, o espaço foi um presente da comunidade nipo-brasileira pelos 400 anos de São Paulo e é símbolo da amizade entre os dois povos. Em 2019, quando completa 65 anos de existência, o Pavilhão recebe uma nova diretoria, formada por jovens líderes da comunidade nipo-brasileira, que estão empenhados em manter vivas e divulgar ainda mais as tradições e a cultura japonesa.

 

Em entrevista para a Mundo OK – diretamente do Japão onde realizava visitas importantes para o desenvolvimento do trabalho à frente do Pavilhão – o novo presidente da Comissão de Administração do Pavilhão Japonês, Claudio Kurita, contou sobre os novos projetos para 2020 e as mudanças que já estão sendo realizadas no espaço.

 

“Para começar nós dividimos os projetos em pilares de atuação dentro do Pavilhão, administração, zeladoria, cultural e capacitação, e dento de cada área vamos trabalhar para trazer ideias e realizar ações para melhorar ainda mais o nosso espaço”, explica. “Estamos trabalhando em fases. A primeira é uma mais básica, com organização e separação do material do acervo, alterações visuais, enfim, pequenas mudanças pontuais. Já as fases dois e três, nós temos algumas ideias de reforma e atualização do espaço, entre elas a modernização do sistema de filtragem do nosso lago de carpas”, completa.

 

Um pouco escondido em meio a tantos atrativos do Parque, trabalhar a divulgação do espaço, para que mais brasileiros e turistas tenham contato com o espaço e a cultura japonesa, é uma das prioridades da diretoria. “Além de melhorar a parte de comunicação com a criação do instagram e do site do Pavilhão, uma das primeiras mudanças que queremos implementar é no horário de funcionamento. A ideia é que em 2020 o público tenha mais um dia para conhecer nosso espaço, podendo visitar o Pavilhão de quinta e sexta-feira, e aos sábados e domingos. E de segunda a quarta-feira, o espaço ficaria fechado para manutenção e limpeza”, adianta Kurita.

 

Outra maneira de atrair mais público é facilitar a compra dos convites. “A tecnologia será uma das nossas aliadas nas mudanças que planejamos fazer no Pavilhão. Além de atualizar e melhorar o nosso sistema de alarmes, pretendemos disponibilizar a venda de convites antecipados pela internet, já que, atualmente, só é possível adquirir na hora, no próprio Pavilhão”, conta.

Mas, as principais mudanças, segundo o diretor, serão na parte cultural. “No passado, o Pavilhão realizava muitos eventos, tanto próprios quanto em parceria com outras entidades, mas isso foi se perdendo um pouco com o tempo, e nós queremos retomar essa tradição”, ressalta. “Estamos montando um calendário intenso, com muitos eventos e atividades para públicos diversos. A nossa ideia é realizar, pelo menos, um evento por mês. Então, tudo que for relacionado a cultura japonesa, arquitetura, meio ambiente e ecologia, nós vamos aplicar dentro do Pavilhão. Teremos feiras, exposições, apresentações culturais, de dança, música, enfim, uma gama completa de atrações”, revela.

 

“Estamos empenhados em elevar o Pavilhão para um outro patamar, em que seja cada vez mais conhecido do público e tenha um lugar especial no coração das pessoas, um cantinho em que elas possam buscar tranquilidade, conhecimento e diversão. Aguardem, teremos muitas novidades e ótimos projetos em 2020”, ressalta Kurita.

65 Anos de História

Construído conjuntamente pelo governo japonês e pela comunidade nipo-brasileira, o Pavilhão teve como principal inspiração o Palácio Katsura, antiga residência de verão da Família Imperial, em Kyoto. O projeto, desenvolvido pelo professor Sutemi Horiguchi (da Universidade de Meiji, no Japão), tem como principal característica o emprego dos materiais e das técnicas tradicionais japonesas.

 

Sua estrutura baseia-se na tradicional arquitetura japonesa no estilo Shoin, adotada nas residências das casas dos samurais e da aristocracia, com composições modulares de madeira, organicamente articuladas e marcadas pela presença do tokonoma (área destinada à exposição de pinturas, arranjos florais, cerâmica, etc).

 

“Em toda a estrutura não há um prego, é tudo encaixado, usando um sistema típico das construções japonesas. Além disso, todo o material utilizado foi trazido especialmente do Japão para a construção do Pavilhão, como madeiras, as pedras vulcânicas do jardim, a lama de Kyoto que dá textura às paredes, entres outros”, detalha Seiji Ito, vice-presidente da Comissão de Administração do Pavilhão Japonês. Especialista em plantas e em carpas, Ito atua como voluntário desde 1965 no Pavilhão. São mais de 50 anos de dedicação ao espaço, que conhece como ninguém e que cuida com carinho e atenção. “No passado tinham muitos voluntários que colaboravam com os cuidados do Pavilhão, mas alguns se afastaram, outros faleceram, e daquela época só restou eu”, revela o jovem senhor de mais de 80 anos.

 

Além dos materiais, a construção do Pavilhão contou também com o corpo técnico vindo do Japão e ajuda de numerosos imigrantes japoneses, que atuaram como voluntários para auxiliar os especialistas.

 

Fora do Japão, o espaço brasileiro é um dos raros pavilhões a manter suas características originais em perfeito estado de conservação, o outro, se localiza nos Estados Unidos. E um dos grandes responsáveis por isso é a construtora japonesa Nakashima Komuten. “Temos muita gratidão pela Nakashima Komuten. Em vários momentos da história do nosso monumento eles estiveram nos auxiliando a restaurá-lo, mantendo suas características originais”, ressalta Kurita. “Por isso, fiz questão de visitá-los em Gifu e fiquei muito emocionado. O Sr. Norio Nakashima (presidente da empresa) é um generoso guardião do Pavilhão e tem um carinho muito especial pelo nosso espaço. Ele sempre faz questão de ressaltar, que fora do Japão, o Pavilhão é um dos lugares mais importantes no âmbito da arquitetura tradicional japonesa”, conta. Segundo Kurita, em 2020 já está confirmada mais uma visita do Sr. Norio e seus funcionários para verificar a construção e as novas ideias e projetos para o espaço.

E desde 1955 a Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social – Bunkyo é responsável pela administração, manutenção e promoção de eventos no local. “Mas, o Pavilhão não é do Bunkyo, ele é dos brasileiros, um presente para o povo, um patrimônio cultural da cidade e do Brasil”, ressalta Kurita.

 

Nesses 65 anos de história, além dos diversos eventos realizados, o Pavilhão recebeu dezenas de visitas ilustres, de membros da família imperial, à representantes de empresas e do governo japonês. “E eu estive presente, recepcionando a maioria desses visitantes. O imperador, príncipe, princesa… Foi uma honra poder participar desses momentos tão importantes para a história da comunidade nipo-brasileira”, enaltece Ito.

 

Arte e natureza em harmonia

 

Composto de um edifício principal suspenso, que se articula em um salão nobre e diversas salas anexas, salão de exposição, além de um belíssimo jardim e um lago de carpas, o Pavilhão reúne com maestria arte, cultura e belezas naturais. Um ambiente em que os visitantes têm momentos únicos de contemplação, descanso e relaxamento. Conheça um pouquinho cada um desses espaços!

 

 

Jardim Japonês

Inspirado nos tradicionais conceitos japoneses, o Jardim Japonês reúne várias plantas e flores típicas. De acordo com Ito, há mais de 200 espécies de plantas no Pavilhão. “Estamos colocando placas para identificar o nome e país de origem de cada uma”, explica. Além disso, ele possui vários marcos relacionados à amizade e intercâmbio entre o Brasil e o Japão, como o pinheiro japonês, plantado em 1967 por Akihito e Michiko, imperador e imperatriz do Japão na época.

 

Lago das Carpas

Um local lindo de contemplação, o Lago de Carpas, com capacidade para cerca de 100 mil litros de água, fica na parte dos fundos da construção, emoldurando o Pavilhão. Graças à iniciativa da Associação Brasileira de Nishikigoi e ao intercâmbio com criadores de várias provínciais japonesas, o lago recebeu as primeiras carpas coloridas no início da década de 1970. “Atualmente, temos cerca de 360 carpas em nosso lago, de várias espécies e tamanhos”, conta Ito. “Muitas colocamos filhote e hoje têm cerca de 30 anos em nosso lago”, completa.

 

Sala de Chá

Localizada no edifício central, o Chashitsu – local para a prática da cerimônia do chá, tem uma atmosfera envolta por quietude e simplicidade. A inauguração da sala, realizada em 1954, contou com a presença do Grão-Mestre Herdeiro Sen Soko (posteriormente, XV Grão-Mestre do Urasenke) e seu irmão mais novo, o mestre Naya Yoshiharu.

 

Salão de Exposição

Ligado ao Pavilhão por uma passagem com vista ao jardim, o Salão de Exposição apresenta o acervo permanente de arte japonesa, formado por peças doadas e consignadas pelo governo japonês, entidades, empresas e personalidades diversas. É composto de peças originais e de réplicas de tesouros nacionais do Japão. “Temos um acervo incrível, com peças raras, por isso temos que trabalhar muito para cuidar desse espaço e manter tudo em ordem e conservado”, esclarece Ito. O Salão também recebe exposições especiais, sempre com temas relacionadas à arte e cultura japonesa.

 

 

Informações

 

Pavilhão Japonês
Local
: Parque do Ibirapuera – portão 10 (próximo ao Planetário e ao Museu Afro Brasil) – avenida Pedro Álvares Cabral, s/nº.

Funcionamento: quarta-feira, sábado, domingo e feriados
Horário: das 10h às 12h e das 13h às 17h

Tel.: (11) 5081-7296 ou (11) 3208-1755

E-mail: pavilhao@bunkyo.org.br

Contribuição adulto: R$ 10,00

www.pavilhaojapones.com.br

Instagram.com/pavilhao_japones