Ao relembrarmos a história da imigração japonesa no Brasil, constatamos que dos 871 imigrantes passageiros do navio Kasato Maru, 325 eram provenientes da Provincia de Okinawa. Ao chegarem ao Brasil no dia 18 de junho de 1908, “ a prometida colheita da safra do café já estava no final”, o que frustrou todas as expectativas que tinham de receberem uma renda significativa, conforme fora prometido pelas companhias de emigração do Japão.
Passados seis meses, devido a problemas de adaptação, tendo que superar as dificuldades de uma língua e comida totalmente diferentes e, ainda, a falta de trabalho, do total geral (871) restaram somente 191 imigrantes nas fazendas. A crise motivou o aumento das fugas noturnas. Na leva de imigrantes okinawanos que abandonaram as fazendas, estavam dois adolescentes de idade aproximada de 16 e 15 anos: eram Kamata Gibo e Yamato Kinjo provenientes da mesma região de Okinawa, cidade de Haebaru, distrito de Tsukazan. Eles vieram separados, cada qual compondo um grupo familiar. Naquela época muitos jovens solteiros se agregavam a alguma família para conseguir viajar. Ao chegar na fazenda eles se tornavam independentes dos grupos.
Uma grande parte dos imigrantes que fugiram das fazendas, inclusive Kamata Gibo e Yamato Kinjo fugiram para a cidade de Santos acompanhando os trilhos do trem, com o intuito de trabalhar e juntar dinheiro para tão logo voltar para o Japão.
Ao passarem pela cidade de São Paulo, os jovens decidiram ficar por aqui: resolveram procurar serviço em lugar que os acomodassem. Batendo de porta em porta, Gibo arrumou trabalho em uma casa de jogos na Rua São Bento, e Kinjo arrumou emprego em um consultório dentário, na Rua Aurora.
Com o passar dos anos, Gibo se estabeleceu na cidade de Campo Grande (MS), em uma casa de jogos chamada Clube do Bambu, tornando se um grande profissional do carteado, sendo conhecido com o apelido de Ipatti. No exercício da sua profissão, sempre recomendava a todos os conhecidos para não praticarem os jogos de azar.
Gibo era respeitado por todos por ser muito prestativo, sempre ajudando e orientando o pessoal da colônia japonesa de diversas formas. Atendendo ao último desejo de Gibo, pelo fato dele não ter deixado herdeiros, sua esposa viajou para Okinawa para depositar as suas cinzas no túmulo da família.
No ano de 1923 Kinjo se formou cirurgião-dentista pela Faculdade de Pharmacia e Odontologia de Pindamonhangaba, no Estado de São Paulo, tornando-se o primeiro imigrante japonês a concluir um curso de graduação universitária no Brasil.
Posteriormente pode voltar a sua terra natal, orgulhoso, acompanhado da sua esposa, causando espanto aos seus conterrâneos pelo padrão de vida demonstrado, até mesmo nas suas vestes. Kinjo teve duas filhas e um filho.
Yamato Kinjo veio a falecer aos 95 anos de idade, pouco antes das comemorações dos 80 anos de imigração japonesa no Brasil, no dia da chegada do príncipe Akihito, que se tornou imperador da era Heisei. No ano de 2019, o Imperador Akihito renunciou ao trono passando para o seu filho Naruhito, iniciando a Era Reiwa.
O diploma de Yamato Kinjo acha-se exposto no Museu da Imigração Japonesa no Brasil, no Bairro da Liberdade, em São Paulo. No ano de 1988, em comemoração aos 80 anos de imigração japonesa no Brasil, o Mercado Municipal passou a denominar-se Mercado Municipal Kinjo Yamato.
Shinji Yonamine
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