UM GRANDE EQUÍVOCO

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Aproveitando as férias de janeiro, que deve se prolongar até dezembro pelo minha condição de aposentado, li um livro que se propôs a relatar os cem anos da imigração japonesa. O título do livro é “Cem anos de águas passadas”, de autoria do jornalista Osamu Toyama, japonês nascido em 1941 na cidade de Hamamatsu, formado em sociologia em 1965 pela Universidade de Doshisha e que se mudou para o Brasil um ano depois.

Não quero criar polêmico, mas acho temerário que um livro que foi originariamente editado em japonês, e portanto lido por muitos japoneses de lá, mostre uma versão tão diminuta e equivocada do que foram os primeiros cem anos da comunidade Nikkei no Brasil. Praticamente dois terços das páginas contam a ascensão e queda do que ele chamou de três baluartes da colônia japonesa (Cooperativa Agrícola de Cotia, Cooperativa Agrícola Sul Brasil e Banco América do Sul) e detalhes do episódio Shindo-Renmei, acontecido nos anos que seguiram ao fim da guerra. Por ter chegado ao Brasil já formado, com a comunidade já bem estruturada e por não ter vivenciado os fatos anteriores à sua chegada, o autor escreveu grande parte do livro baseado em depoimentos de pessoas, quase sempre de credibilidade duvidosa, afinal, japoneses e descendentes gostam de enaltecer seus feitos e diminuir a dos inimigos. A grande maioria dos imigrantes de pré-guerra e seus descendentes não tiveram suas vidas afetadas por estas três empresas, apesar de toda a importância destas. E que aconteceu logo após o final da Segunda Guerra não pode se basear apenas em depoimentos de pessoas sem expressão na sociedade (geralmente vitoristas ignorantes), que procuravam jornalistas ingênuos para saírem do anonimato com sensacionalismos. Os imigrantes mais sensatos e cultos comentavam os acontecimentos e expunham suas opiniões entre eles e nunca publicamente.

No último capítulo do livro, “Conclusões”, o autor foi de uma infelicidade total. Dizer que a comunidade japonesa no Brasil manteve uma postura submissa durante a segunda guerra é um desrespeito a todos os imigrantes que, mesmo com o risco de serem presos e castigados, mantiveram escondidos peças da cultura e da arte japonesa e fotos da família Real, que eles tinham trazido da terra natal. Mais a frente ele diz que todas as empresas da comunidade fracassaram, com exceção da Fazenda Tozan, da fazenda Nomura e da Bratac. E a Jacto, Sassazaki, Sakura,  e tantas outras empresas fundadas por imigrantes e que hoje são dirigidas pelos descendentes? Mesmo entre as japonesas, a Honda, a Toyota, a Aji-no-moto, a Yakult e tantas outras mostram que estão muito bem. Em todo esse capitulo ele se mostra decepcionado com os novos nikkeis, pela falta do espírito moral japonês, o “bushidô”, dando a entender que a imigração japonesa no Brasil foi um fracasso.

Contrariando o autor, vou mostrar porque a nossa comunidade Nikkei é vitoriosa. Não bastasse todo o prestígio que conquistamos junto a sociedade brasileira, basta olhar o número de profissionais nikkeis de nível superior. A partir dos anos 60 do século XX, dizia uma anedota popular, “mate um japonês para garantir um lugar na USP”. No seu livro nem fez referência à Tetsuo Okamoto, o primeiro medalhista olímpico do Brasil na natação. Ou que o número de restaurantes de comida japonesa é maior do que o número de churrascarias e que esse sucesso não se fez somente pelo paladar, mas muito pela credibilidade que os nikkeis tem na sociedade. Se todos comem na nossa mão, porque achar que somos fracassados!!!