OBON DE OKINAWA – SHICHIGWACHI

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Você sabia que o obon é uma data muito importante na cultura okinawana? Você sabia que lá, as festividades duram cerca de 3 dias? Você sabia que o obon de Okinawa é bem diferente do resto do Japão? E que no Brasil, os descendentes okinawanos também tem uma maneira própria de fazer o obon?

 

Vou contar um pouco sobre a minha vivência no obon de Okinawa e do Brasil, sem entrar em muitos detalhes na parte espiritual…

 

Na minha família, a gente sempre comemora o obon sempre no dia 15 de julho. A família toda se reúne, acende o senkô* no tootoome*, come diversas comidas: gohan, jyushimê, nishimê, batata doce empanada, bacon, manju, mochi, chá, etc. Esses alimentos são servidos no tootoomê, e todos devem acender o senkô e orar para os antepassados. Pelo que eu sei, não existe uma forma certa e uma oração pronta. Você pode agradecer aos antepassados em forma de pensamento, expressando o que está em seu coração. Eu acredito que essa seja uma forma bem bonita de agradecer pela vida e pelos antepassados. Afinal, graças a eles, é que estamos aqui hoje! Na minha família, foi sempre assim… Um dia divertido, com comida boa e família reunida.

 

Quando fui a Okinawa pela primeira vez, visitei os meus parentes em Urasoe e Yonabaru. E nesse momento, percebi a grande diferença que existe no modo de se realizar o obon. Em Okinawa, o obon não é realizado no dia 15 de julho, como fazemos no Brasil. Lá, eles seguem o calendário lunar, que varia a cada ano. Este ano, por exemplo, o obon será entre os dias 13 a 15 de agosto.

 

Outra diferença é que o obon em Okinawa dura 3 dias: o primeiro dia, é chamado de unkee – que significa, recepção dos espíritos. Nesse dia, o meu parente de Urasoe, acendeu uma vela na porta de casa e chamou os espíritos ancestrais, dizendo que estava tudo pronto para recebê-los. O curioso é que, nessa época, o tootoome da família fica decorado com lindas luminárias e dois pedaços grandes de cana de açúcar. O meu tio disse que é porque os espíritos costumam ser velhinhos e por isso, precisam de uma espécie de bengala para se apoiarem. Além disso, durante esse período, todas as refeições são servidas no tootoome.

 

O segundo dia, é chamado de nakabi. Passei esse dia na casa dos meus parentes de Yonabaru. Lá, acendi o senkô para o altar familiar e comi o nakamijiru, uma espécie de sopa feita com tripas de porco. Confesso que essa parte não me agradou muito! Mas também havia sashimi e gohan, o que é algo bem diferente das outras famílias. Depois, toquei sanshin para a família, que apesar de serem nativos okinawanos, conhecem pouco sobre a música de lá. Fiquei bem surpresa com isso!

 

No terceiro dia de obon, fui novamente na casa dos meus parentes de Urasoe, onde foi realizado o uukui, a despedida dos espíritos ancestrais, na qual os homens acendem o senkô primeiro e depois, queimam o uchikabi, um papel amarelo, que segundo as tradições, representa o dinheiro que os espíritos levarão ao céu. Essa parte do uchikabi é bem curiosa, porque não é costume de fazer aqui no Brasil. Após a queima, foi a hora de se despedir. Fomos até a porta de casa, onde o meu tio e toda a família fizeram uma oração, agradecendo e se despedindo, deixando as oferendas na porta. E em seguida, o grupo de jovens do bairro, realizaram uma apresentação de eisá, nas ruas. Ao som do sanshin, os jovens rapazes carregam o seu taiko – som que representa a batida do coração. O katakashira (espécie de bandeira alta), representa uma ponte para o retorno ao céu. E assim, termina o obon de Okinawa, com muita comida, música e festa!

Naquele momento, eu pensei: “Poxa, poderíamos ter um evento assim aqui no Brasil! Com a rua iluminada, pessoas tocando sanshin e jovens fazendo o eisá!” Foi tudo muito bonito! Quem sabe um dia isso se torne realidade…

 

Dentre todas essas diferenças, o mais importante é fazer de coração. Aqui no Brasil, a minha família prepara tudo em casa. Na minha família em Okinawa, a maior parte dos alimentos são comprados prontos. Não que seja algo ruim, mas os costumes vão mudando, tanto no Brasil quanto em Okinawa. Sou muito grata por poder conhecer esses lados extremos da minha família, que também é parte de mim.

 

E você, como comemora o obon?

Gostaria de conhecer sobre outros temas relacionados a Okinawa?

 

Na próxima edição, escreverei sobre o eisá!

 

Se você tem sugestões, pode me escrever! Ficarei muito feliz!

 

 

*Senkô: espécie de incenso japonês

* Tootoome: espécie de altar familiar, bustudan. Na língua de Okinawa, é chamado de tootoome.