Perfil: Abrindo o coração

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De entregador de comida a árbitro consagrado UFC, Mario Yamasaki explica o sucesso no ringue e nos negócios

Fotos: Divulgação

Brasileiro faixa preta de judô e jiu-jitsu, Mario já participou de mais de 300 lutas como árbitro
Brasileiro faixa preta de judô e
jiu-jitsu, Mario já participou de
mais de 300 lutas como árbitro

Garra e persistência. Dois atributos básicos para um ser humano chegar aos seus objetivos. Porém, na grande maioria das vezes, os percalços enfraquecem as ambições, deixando em primeiro plano o desânimo e, consequentemente, a falta de vontade. Porém, para Mario Yamasaki, as dificuldades geram oportunidades. Com uma postura de samurai, mas com a mentalidade ultramoderna, o consagrado árbitro do UFC (Ultimate Fighting Championship) é, atualmente, uma referência não só nas artes marciais, como também na vida empresarial.

Quem apenas observa sua atuação nas consagradas lutas, nem imagina o quanto Yamasaki teve de “ralar” para chegar lá. Após decidir seguir a vida fora do Brasil, o então jovem de 24 anos e praticante de judô desde criança partiu para os Estados Unidos – com míseros US$ 1 mil e sem falar inglês. O resultado? Uma verdadeira peregrinação em busca de empregos para se manter vivo. “Saí do Brasil sem diploma, com a cara e a coragem. Fui entregador de comida, motorista de caminhão, trabalhei em hotéis e dirigi até limusine. Detalhe: nunca tinha lavado um prato”, revela ele, sem se esquecer das dificuldades no idioma: “Minha ideia era abrir uma academia de jiu-jitsu. Por não saber falar inglês, eu fazia demonstrações. Eles achavam a coisa um pouco brutal e paravam de frequentar.”

Hoje, além de saber lavar pratos e dirigir muito bem, Yamasaki continua sua luta na vida, porém, sob um outro prisma. Além de conseguir abrir sua primeira (e própria) academia em 1994, ele administra outras 16, espalhados pelos Estados Unidos. No Brasil, também atua no segmento, com dois empreendimentos. De oito alunos em sua primeira turma, hoje já são centenas que passaram pelos tatames.  “Não foi fácil. Porém, sempre fui persistente e nunca desisti. Quando cheguei nos Estados Unidos, as pessoas não viam com bons olhos lutadores de jiu-jitsu. Éramos taxados de marginais, brigões mesmo. Hoje, tudo mudou. Mas, no fundo, tudo foi um aprendizado, gerando oportunidades. Sempre procurei enxergar oportunidades, nos momentos bons e ruins”, explica ele.

Daí para a consagração no UFC foi um pulo. Ou melhor, um salto, pois o período de aproximação com os dirigentes da competição foi demorado. Como seu irmão trabalhava em uma academia que se mostrava interessada em trazer atletas do UFC para Brasil, Yamasaki teve de se desdobrar para achar um contato, em meados de 1996. “Saí da minha academia naquele dia e vi um panfleto jogado no chão. Recolhi para botar no lixo, e estava escrito lá: ‘Dan Severn, campeão UFC, dará autógrafos na Virgínia’. Dirigi até a cidade vizinha e o encontrei. Como o evento estava vazio, levei-o até a minha academia. A conversa foi muito boa e, alguns meses depois, Dan Severn e outros atletas vieram para o Brasil. Daí, surgiu uma relação forte com o UFC”, explica.

Dentre as lutas históricas que Mario participou, está o combate entre Anderson Silva e Vitor Belfort
Dentre as lutas históricas que Mario participou,
está o combate entre Anderson Silva e Vitor Belfort

Após mais um evento do UFC em terras brasileiras, “aos trancos e barrancos”, como costuma dizer, Mario Yamasaki conseguiu, enfim, uma vaga como árbitro do UFC, indicado por “Big” John McCarthy. Sua primeira luta foi em 1999, entre Fabiano Iha e Laverne ClarkDali, no UFC 20. Para efeito de comparação, atualmente o torneio está em sua 175ª edição. São mais de 300 lutas como arbitro e muitas histórias. Dentre as lutas históricas, estão os combates entre Anderson Silva e Vitor Belfort.

“Cada luta é uma história, com suas características. Vejo a evolução dos atletas, a força de vontade. Também tenho tudo isso, pois sou um praticante de artes marciais. Tudo que conquistei até hoje é fruto dessa determinação que meu pai sempre me ensinou. Os valores da cultura japonesa, o respeito pelas pessoas e o lema de sempre fazer o bem é que permeiam minha vida. Tenho a absoluta certeza que procuro repassar a meus filhos todo esse ensinamento. Se depender de mim, crescerão com esses ensinamentos de vida”, reflete Yamasaki.

De pai para filho

Brasileiro, nascido em São Paulo no dia 22 de abril de 1964, Mario é filho de Shigueru Yamasaki, faixa coral 8° Dan de judô e um dos primeiros árbitros internacionais desta arte marcial. Portanto, o contato com o tatame veio desde cedo: com apenas quatro anos de idade frequentava os treinos com o pai. Aos 15 anos conheceu o jiu-jitsu, e hoje, é faixa preta nas duas modalidades. Com o pai, aprendeu também a arte da arbitragem. Shigueru dava cursos no Brasil, e frequentador assíduo das aulas, Mario aprendeu logo cedo as movimentações e posicionamentos.

Ensinamentos de ouro

Em encontros e palestras motivacionais, Mario Yamasaki aborda conceitos que o ajudaram a atingir o sucesso. “O que vale é persistir, se esforçar. Se mentalizarmos algo bom, o caminho será melhor”, afirma. Veja quais são os elementos que permeiam a vida do empresário para atingir os objetivos:

– Faça acontecer, corra atrás dos sonhos com vontade (“Se eu não tivesse persistido, nunca teria prosperado”)

– Dever e lealdade (“Seja sempre leal com você mesmo e com os outros”)

– Tenha compaixão e benevolência  (“Perdoe os erros sempre”)

– Seja polido e cortês (“A máxima de que devemos tratar todos de forma igual”)

– Sinceridade e veracidade (“Fale sempre a verdade”)

– Justiça e moralidade (“Ter educação e valores morais ajudará a fazer a melhor escolha”)

– Ser um samurai moderno (“Todo mundo tem um samurai dentro de você, um guerreiro que serve. Então, vá sempre à luta”)