Perfil: Aventura em quatro rodas

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Japonês Yutaka Okano, de 75 anos, que deu a volta ao mundo em uma Kombi em 1962, quer repetir o feito em 2016 e está à procura de um “companheiro de viagem”  

Fotos Arquivo Pessoal

Okano mostra, com orgulho, foto da passagem de sua expedição por terras brasileiras, na década de 1960
Okano mostra, com orgulho, foto da passagem de sua expedição por terras brasileiras, na década de 1960

Com as lembranças ainda vivas da grande aventura em que foi protagonista, em 1962, quando a bordo de uma Kombi deu a volta ao mundo, visitando 110 países e percorrendo cerca de 350 mil quilômetros, o japonês Yutaka Okano, hoje com 75 anos, volta ao Brasil para uma viagem de negócios e revela o seu mais novo sonho: repetir o feito realizado na década de 1960 e dar, novamente, à volta ao mundo sobre quatro rodas.

No Brasil para realizar uma pesquisa sobre o karaokê em terras tupiniquins, o representante Daiichikosho – segundo Okano a maior empresa do ramo de karaokê do mundo – participou de um tradicional evento da comunidade nipo-brasileira, visitou entidades e karaokês espalhados pela capital paulista em que japoneses, descendentes e não descendentes se divertem soltando a voz. O objetivo da itinerância, revela ele, é criar uma Associação Mundial de Karaokê.

Okano também aproveita a visita para procurar um companheiro para sua nova viagem a bordo de uma Kombi, alguém disposto a conhecer vários países por terra e, claro, revezar o volante. “Se tudo der certo, uma vez que primeiro preciso conseguir um patrocinador disposto a arcar com as despesas da viagem, já tenho data marcada para a aventura: será entre as Olimpíadas do Rio de Janeiro e de Tóquio. Pretendo rodar uns 60 mil quilômetros, demoraríamos em torno de um ano”, conta.

Enquanto não encontra uma companhia para a expedição, Okano lembra, com saudades, da primeira viagem que realizou ao lado do belga Michel Delpiere, quando saíram da Bélgica e rodaram o mundo por cinco longos e bons anos. O que rendeu à dupla o recorde de viagem mais longa em terra no mundo, tudo registrado em detalhes pelos jornais da época.

“Chegamos ao Brasil em 1963, via Uruguai, e visitamos algumas cidades do País. Em São Paulo cheguei a entregar uma carta do governador de Tóquio para o prefeito ou governador da época, convidando para a Olimpíada de Tóquio, que seria realizada em 1964”, relata. “Também ganhamos um presente quando passamos por São Paulo. A Volkswagen, sabendo da nossa expedição, nos deu um novo motor e reformou a nossa Kombi”, completa.

E não foi só a empresa automobilística que colaborou com a viagem dos dois aventureiros. “Recebemos ajuda financeira do Egito, da Jordânia e do Afeganistão. Além disso, por onde passássemos as pessoas sempre nos ajudavam, com alimentos, gasolina, hospedagem”, conta Okano. Segundo ele, por muitas noites os amigos dormiram na própria Kombi e conseguiam ser virar com apenas um dólar por dia. “Escrevi duas mil cartas e espalhei pelo mundo, e recebi várias colaborações ao longo da viagem. Rodar o mundo em uma Kombi era algo muito improvável para a época, por isso conseguimos tanta ajuda. Agora já é mais difícil, terei que ter mais recursos dessa vez”, afirma.

Okano também revela qual era o seu maior medo durante a viagem: ficar doente. Já que não tinham recursos para pagar um tratamento. “E foi justamente isso o que aconteceu. Quando estávamos no Marrocos, no Norte da África, contrai malária. A minha sorte é que tinham médicos franceses fazendo pesquisas sobre a doença na região e consegui tratamento gratuito”, recorda.

Os aventureiros também visitaram a capital do Brasil
Os aventureiros também visitaram a capital do Brasil

E sua maior conquista foi conhecer muitas pessoas boas espalhadas pelo mundo, “na mesma quantidade de estrelas”. “Não cheguei a descobrir uma ‘nova terra’ como fez Pedro Álvares Cabral com o Brasil, mas conheci muitas pessoas generosas nesses anos de viagem e isso foi o maior legado da expedição”, enaltece.

Para a próxima viagem, Okano quer observar o mundo e ver se seu “olhar” mudou de quando tinha 20 e poucos anos para agora com quase 80. “Observarei as pessoas, as mudanças de comportamento e as melhorias em infraestrutura que os países tiveram”, detalha. “Também quero colocar uma máquina de karaokê na Kombi para as pessoas conhecerem, cantarem e, quem sabe, se eu encontrar um bom cantor pelo caminho leva-lo até o Japão para gravar a música?”, especula bem humorado. “Quero fazer do karaokê mais um elemento de divulgação da cultura japonesa pelos continentes, como a gastronomia, o animê o mangá já são”, confessa.

Para finalizar essa jornada em grande estilo, Okano também pretende escrever um livro para contar suas aventuras, descobertas, o que viu e conheceu do mundo por tantos quilômetros de estrada.