Rituais pós morte   –  Parte 2   

0
1549

Em Okinawa as oferendas nas missas variam de região para região, as comidas são arrumadas em uma caixa chamada Jubaco, em que são dispostas sempre em números ímpares (3 – 5 – 7), normalmente são sete variedades de salgados: bolinho de batata doce, toucinho defumado, nabo, kombu, cenoura, gobo e kamaboko, e também um prato  com 21 mochis – bolinhos de arroz, e 21 mandjus brancos – bolinho com recheio de feijão azuki, dispostos em três carreiras de sete, algumas famílias oferecem o peixe frito inteiro, há regiões que é oferecido a cabeça do porco, e a modernidade tem acrescentado outros tipos de doces e salgados, na 7ª missa (que é a última) é ofertado um prato com  48 mochis   e mais um mochi maior, que representam os ossos do corpo e da cabeça.

Destacando que a primeira e a última missa são as mais importantes, considerando que as sete semanas, é igual ao tempo de formação do ser humano no ventre da mãe, e também considera se o período em que o espírito do falecido toma consciência de seu desencarne, pois em muitos casos vem a morrer repentinamente. Esse é o período em que as entidades superiores preparam, orientam e o encaminham para o plano espiritual.

Na 7ª missa é realizado um pequeno ritual de passagem, em que muitas famílias chamam a Yuta – vidente. O “Shiro Ihai” – tablita branca é queimado, pega se três punhados das cinzas que é adicionado no “Koro”, e é confeccionado um novo “Ihai” – tablita com nome do falecido desta vez na cor vermelha e letras douradas, em Okinawa a cor vermelha simboliza “a alegria de receber os descendentes” (a tablita é dividida em dois níveis, no superior é inserido o nome dos homens, na parte inferior o nome das mulheres)

O “Koro” e o “Ihai” são transferidos para outro móvel o “Guansu ou Totome”, que é um oratório de madeira, onde os acessórios ficam dispostos da seguinte maneira: no 1º degrau – é colocado o Ihai e vasos com flores, no 2º degrau – duas xícaras com chá, um copo com água (deve ser trocado todo dia), e um cálice de pinga (opcional), 3º degrau – o “Koro”.

A partir daí acende-se três senkôs simbolizando que o falecido já está encaminhado espiritualmente, finalizando o processo a “Yuta” faz um ritual, para que o espírito do falecido, possa se comunicar com os seus familiares, agradecendo, como forma de consolo.

Caso a pessoa venha a falecer, no período em que não se completa os 49 dias até o final do ano, as missas se encerrarão na 1ª missa, 3ª missa ou a 5ª missa, considerando se, que não se pode passar a tristeza da perda de um ente querido, para o próximo ano. Porém, se a pessoa falecer no final do ano, e a sua 1ª missa cair no mês de janeiro, se mantém toda a sequência das  missas.

Assim, se encerra o 1º ciclo das missas, e nos dias 1º e 15º de cada mês, acende-se 3 senkôs, é oferecido chá e água, posteriormente serão realizadas missas, de 01 ano, 03 anos, 07 anos, 13 anos, 25 anos e a última missa de 33 anos que é a consagração, quando o último compromisso se encerra, o Pai “falecido” que conheceu o seu filho, já é avô.

Cabe a mulher da casa ser a porta voz espiritual, é ela que acompanha a visita para rezar, a responsável de cuidar do Totome, fazer as oferendas e acender o senkô.

Mantendo a tradição, a responsabilidade de administrar os rituais é do filho primogênito, assim sendo a sua casa passa a ser o ponto de referência de todos os descendentes desta família, pois o sonho dos pais tem como base a integração familiar, e os momentos em que são realizadas as missas e os dias festivos em que se reúnem no fim do ano, passa a ser o propósito principal desta cultura. O Totomé é o motivo de uma grande realização familiar em que os ancestrais estão contentes porque a família está unida.

Shinji Yonamine

Palestrante das Tradições e Cultura de Okinawa

e-mail:  shinji@mundook.com.br