Tikeenen – Tenha Coragem

0
991

O imigrante okinawano enfrentou vários desafios, sempre amparado pela força da comunidade, chegando no Brasil   teve que ter coragem para enfrentar novas situações, as diferenças culturais, problemas de comunicação, alimentação e discriminação,  o que os fortalecia era o velho preceito dos seus pais Tya majun – sempre juntos, ao sair das fazendas  procurou familiares e conterrâneos em busca de apoio,  iniciando ali uma ação solidária entre os seus membros, devido a própria situação em que todos se encontravam, “era pobre ajudando pobre”, como diz o velho ditado Tyui tashiki tashiki.

O imigrante não foi ser empregado  mas sim um pequeno empreendedor, este sonho só foi possível graças a formação do (WA) Circulo de Amigos, iniciando uma nova atividade com o auxilio do Tanomoshi que era uma reunião de conhecidos que aplicavam um valor fixo mensalmente por um determinado tempo, em que havia vantagem tanto para quem aplica assim como para quem recebe a ajuda,  determinado o valor da quota o primeiro agraciado deste montante que é o organizador e administrador (Oya) ele recebia o valor total,  sem o compromisso de pagar os juros financeiros, e também cedia a casa e na ocasião das reuniões era oferecido (Hija)  sopa de cabrito, uma iguaria muito apreciada pelos uchinanchu  (pessoa nascida em Okinawa),  a partir do segundo mês, passa a vigorar juros aos contemplados através de lances como se fosse um consórcio.  Este processo deu a oportunidade para inúmeras famílias iniciarem suas atividades, pois na ocasião não havia créditos bancários, a não ser a amizade e a confiança do circulo de amigos.

Até ao final da década de 60, no bairro do Mercado situado no centro da capital de São Paulo, era o foco da comunidade okinawana, é onde ocorriam as manifestações culturais e sociais, por este motivo tinham muitas pensões que abrigavam os estudantes do interior e pessoas que vinham fazer compras em São Paulo, e também muitas famílias okinawanas foram morar na região do Mercado em função do Mercado da Cantareira.

O bairro do Mercado foi o centro de abastecimento de produtos hortifrutigranjeiros, e lá o comércio de papelaria, farmácia, lojas de defensivo e máquinas agrícolas, casa de sementes, livrarias japonesas: Endo, Okinaga e Tayodo, dentistas, escola de língua japonesa e corte costura, estúdio fotográfico, barbearias, cabeleireiros, a maioria dos donos eram descendentes de japoneses, e também lá estavam estabelecidos: Banco Tozan, Sumitomo e América do Sul, além das cooperativas agrícolas.

Os  imigrantes nos deixaram um grande legado representado pela construção de Associações nos mais diversos locais, onde houvesse a participação comunitária criando entre os elementos da sociedade o censo de cooperação e o fortalecimento do vinculo de amizade baseado no principio do WA (circulo) levado com muita consideração pelos antigos imigrantes, será para nos descendentes um marco de referencia para o nosso fortalecimento para futuros desafios,  através dessa força denominada solidariedade.

Atualmente estamos envoltos por esta pandemia do Covid-19, sendo obrigados  para a nossa proteção ao isolamento social, por ironia do destino, do mau para o bem, com este confinamento, as pessoas estão mais afetivas e unidas,  e a sociedade  está mais solidária, resgatando antigos valores familiares e sociais, legado deixados por nossos imigrantes

O meu desejo que após este período de quarentena, possamos nos encontrar saudáveis e sem sentir a falta de alguém.

Tikeenen Nankuru Naissa – Encare os desafios com coragem