Comunidade: Japan House em São Paulo

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Capital paulista é escolhida para sediar novo espaço de cultura, negócios e tecnologia que vai mostrar para o mundo o Japão contemporâneo

Fotos Divulgação

Maquete da Japan House

Com objetivo de combinar arte, tecnologia e negócios para apresentar aos visitantes uma perfeita tradução do Japão moderno sem, é claro, esquecer as raízes e as tradições, será inaugurada na capital paulista, em março de 2017, a Japan House – iniciativa global do governo japonês, que trará ao Brasil um novo olhar sobre o Japão contemporâneo.

O projeto Japan House é uma iniciativa do Ministério dos Negócios estrangeiros do governo do Japão, em cooperação com empresas privadas e grupos que buscam o fortalecimento do intercâmbio Brasil–Japão. A Dentsu Inc. — empresa japonesa especializada em comunicação e publicidade — obteve, em processo licitatório, a concessão para administrar o empreendimento no Brasil. Uma de suas atribuições foi selecionar as equipes locais de planejamento e gestão, que serão compostas de uma combinação de profissionais da sucursal brasileira da Dentsu Inc. — a Dentsu Brasil — e da Suriana, consultoria especializada em marketing e desenvolvimento de negócios internacionais.

As obras de reconversão do prédio que abrigará a Japan House terão início no mês de abril de 2016. No comando do projeto arquitetônico está Kengo Kuma, arquiteto japonês reconhecido internacionalmente com obras no Japão, China, França, Suíça, Itália e Reino Unido. Kuma trará a São Paulo os traços que identificam o seu trabalho, reconhecidos no mundo todo como o uso inovador de materiais naturais, como a madeira e o papel, para criar espaços de leveza e luminosidade.

O cônsul-geral do Japão em São Paulo e presidente do comitê executivo da Japan House – formado por personalidades brasileiras com vínculos com o Japão –, Takahiro Nakamae explica as principais características desse novo espaço: “A da Japan House será um estabelecimento onde as pessoas poderão encontrar todas as informações sobre o Japão, já que a casa vai mostrar o Japão como um todo; além de apresentar as celebridades e especialistas japoneses para um público que já tem interesse pelo nosso país, como para aqueles que não o conhecem”, detalha. “A nossa ideia é que as pessoas entrem na Japan House e se sintam no Japão. Não mediremos esforços para que esse espaço se torne um admirável investimento e um grande símbolo do relacionamento entre o Brasil e o Japão moderno”, ressalta o cônsul.

“As pessoas vão poder entender e se aproximar ainda mais do Japão. Esse novo espaço vai reunir arte, gastronomia e tecnologia, em uma verdadeira imersão na cultura japonesa. Além de criar novas pontes entre os dois países nas áreas comercial e empresarial, ampliando e fortificando a relação entre Brasil e Japão”, completa a diretora executiva da Japan House, Angela Tamiko Hirata, que é fundadora da Suriana, uma consultoria de desenvolvimento de negócios internacionais e foi uma das responsáveis pela estratégia de internacionalização da marca Havaianas. “A Japan House é um verdadeiro presente do Japão para o Brasil, um investimento nas pessoas e na cultura”, enaltece.

De acordo com a diretora executiva da Japan House, os investimentos na iniciativa alcançarão cerca de 30 milhões de dólares até março de 2019. As atividades recorrentes da instituição serão financiadas por verbas específicas do governo japonês, enquanto certos eventos e programas poderão contar com o apoio de empresas privadas. “A instituição também gerará receitas por meio da venda de serviços e produtos em seus espaços, para poder manter suas atividades em andamento”, destaca Angela.

Além de São Paulo, Londres, na Inglaterra e Los Angeles, nos Estados Unidos também foram selecionadas pelo governo japonês para receber as primeiras Japan House no mundo. Segundo Nakamae, a capital paulista foi escolhida primeiramente porque é no Brasil e, principalmente, em São Paulo, que vive a maior população de origem japonesa fora do Japão. Segundo, pelas fortes ligações econômicas, sociais e humanas entre os dois países, e a imagem positiva do Japão no Brasil. Além de São Paula ser o principal centro econômico da América Latina e um polo importante de produção artística e cultural. “Essa escolha do governo japonês demonstra também a confiança que eles têm no Brasil e a importância do relacionamento entre os dois países”, afirma Angela.

Fachada do prédio, localizado na avenida Paulista

No coração de São Paulo

O novo espaço cultural será instalado em uma das avenidas mais conhecidas e visitadas de São Paulo: a avenida Paulista. Especificamente no número 52, vizinha à praça Oswaldo Cruz, no cruzamento com a rua 13 de Maio. E o local não foi escolhido à toa. Um dos cartões postais da cidade, a avenida tem intenso trânsito de pessoas e fácil acesso, já que três estações de Metrô e diversas linhas de ônibus abrangem a região.

A presença da Japan House vai adensar ainda mais esse polo informal de eventos públicos e equipamentos culturais já ativos na região, uma vocação reforçada pelo projeto “Paulista Aberta”, que aos domingos converte a avenida em área pública de lazer reservada aos pedestres e ciclistas, com diversas atividades e shows para todas as faixas etárias.

O edifício que abrigará a nova casa, remodelado a partir da construção já existente no endereço, vai combinar traços japoneses com brasileiros. “Dentro da Japan House utilizaremos a tradição, mas também o conceito japonês moderno de simplicidade”, explica Kenya Hara, produtor executivo, que dará as diretrizes gerais para as Japan House de todo o mundo, as quais serão desenvolvidas pelas equipes locais de cada casa. Hara é designer, representante do Centro de Design japonês e professor da Universidade de Artes de Musashino.

Kuma, autor do projeto arquitetônico, explica que a fachada da Japan House terá uma cortina de réguas de madeira trabalhadas por artesãos japoneses, em diálogo com uma parede de cobogós, os pequenosblocos vazados de cimento que são elemento comum na arquitetura modernista brasileira. O aroma da madeira e o jogo cambiante de luz do dia sobre os elementos da fachada vão se somar para fazer um contraponto de serenidade à agitação urbana. Jardins de bambus, uma planta ao mesmo tempo japonesa e brasileira, circundarão todo o prédio.

Segundo os diretores do projeto, a Japan House pretende ser não apenas um novo ponto de exclamação arquitetônico na Paulista, mas também um espaço de encontro e convivência capaz de atrair tanto o passante casual quanto o visitante assíduo, interessado em acompanhar sua programação de mostras e atividades.

Espaço Multiuso
Espaço Multiuso

Arte, gastronomia, tecnologia e muito mais

Para cumprir com a sua missão de apresentar o Japão moderno para o mundo, a Japan House terá uma grande gama de temas que serão desenvolvidos e amplamente divulgados em seus espaços, tais como: cultura, moda, gastronomia, história, negócios, design, robótica, ciências e engenharia, inovação urbana e mobilidade, e tudo o mais que se relacione à capacidade japonesa de inovar.

Para apresentar esses temas aos visitantes, a espaço cultural promoverá exposições, palestras, seminários, eventos culturais e performances artísticas, com atenção especial às histórias e aos contatos entre pessoas. “Essa programação diversa tem como objetivo apresentar o Japão para o mundo, para os brasileiros, para os paulistas e para os nossos vizinhos da América Latina”, ressalta Angela.

Materclasses
Materclasses

“Nossa missão será fazer com que o público que visitar a Japan House redescubra e reconheça o Japão atual. Fazer com que as novas gerações de brasileiros e japoneses se encontrem e conheçam um Japão e um Brasil contemporâneo”, explana o curador e diretor de planejamento da Japan House de São Paulo, Marcello Dantas. Criador multidisciplinar com ampla atividade no Brasil e em outros países, Dantas trabalha na fronteira entre a arte e a tecnologia, produzindo exposições e projetos de museus que oferecem experiências de imersão por meio dos sentidos, como o Museu da Língua Portuguesa em São Paulo e o do Ethnologisches Museum, em Berlim.

A Japan House também vai trazer ao Brasil personalidades japonesas de perfis variados, como artistas, cientistas, esportistas, chefs de cozinha, homens de negócios e líderes da sociedade civil para encontros, workshops e masterclasses.

O novo espaço cultural abrigará, ainda, um restaurante/cafeteria de gastronomia nipônica, biblioteca, ponto de informações turísticas e uma loja de artesanato e manufaturas japonesas, que estará disponível para o lançamento de produtos, encontros de negócios, seminários executivos e outros eventos empresariais.

“Vamos investir também na área turística mostrando aos visitantes as regiões japonesas que não fazem parte dos roteiros turísticos tradicionais. Para atrair não só os adultos e pessoas da terceira idade, mas também o público jovem para ‘turistar’ no Japão”, comenta Angela.

Dantas esclarece que a Japan House funcionará seis dias por semana e terá entrada gratuita para o público. “Eventualmente uma atividade ou outra como um curso ou workshop poderá ter algum custo para os participantes”, conta.

O projeto de Kengo Kuma

Biblioteca e Sala Multimídea
Biblioteca e Sala Multimídea

Se fossemos resumir o projeto desse grande arquiteto japonês, poderíamos explicá-lo da seguinte maneira: quatro pisos e grandes portas de correr! Quando for inaugurada e estiver em pleno funcionamento em 2017, a Japan House terá mais de 2500 metros quadrados de área útil, divididos em um piso térreo e mais três andares.

“O prédio que abrigará a Japan House será transformado com a utilização de materiais naturais, e nesse quesito, o Brasil é um país muito rico”, revela Kuma. Entre os materiais que serão utilizados, destaque para a madeira hinoki, muito resistente e comum na arquitetura japonesa. “É a mesma que foi utilizada na construção do Pavilhão Japonês, localizado no parque do Ibirapuera”, revela o arquiteto. Segundo ele, artesãos e carpinteiros japoneses já estão atuando no trabalho de “encaixe” das madeiras hinoki, que serão utilizadas no projeto. “Desde o térreo até o segundo andar da Japan House poderemos sentir o contato com o verde, os recursos naturais e a natureza”, esclarece o arquiteto.

Na arquitetura interna do prédio, Kuma vai privilegiar a abertura e facilidade de comunicação entre as pessoas, por isso não haverá paredes fixas separando os ambientes. Esses serão modulados por grandes portas deslizantes chamadas de fusuma na arquitetura tradicional japonesa, delimitando espaços quando fechadas, ou criando ambientes mais amplos se mantidas abertas. As fusuma são um princípio importante na tradição da terra do sol nascente, já que em terras japonesas o espaço é um bem raro, tornando-se essencial a flexibilidade na hora de ocupa-lo. A posição das portas de correr indica ainda se é possível entrar ou não naquele ambiente, uma forma de comunicação indireta muito valorizada pela cultura japonesa como sinal de respeito ao próximo.

“Nessas fusuma vamos utilizar o washiê – técnica tradicional japonesa de rasgar e colar o papel washi (papel típico e artesanal do Japão) para compor um desenho. Mas, não da forma tradicional, e sim de uma maneira moderna, que vai surpreender tanto os japoneses como os brasileiros”, adianta Kuma.

Com um bom pé-direito livre, o ambiente do térreo será um espaço para eventos criativos que proponham ocupações variadas. Ele vai abrigar uma praça interna, aberta para a rua, que dará acesso a espaços diversos: o hall de entrada com cafeteria; um ambiente multiuso para até 150 assentos; uma biblioteca com leituras relacionadas à cultura japonesa; e um jardim. Quando as fusuma estiverem totalmente abertas esse piso poderá se tornar um grande vão sem divisórias, comunicando o jardim em uma ponta, com o hall e a cafeteria, na outra extremidade.

Um amplo salão de seminários dará o tom ao primeiro andar do prédio. Um ambiente para encontros entre pessoas, em aulas, conferências ou debates, obedecendo ao mesmo princípio de flexibilidade de uso, já que duas fusuma permitirão modular os espaços de acordo com os eventos programados. As combinações de divisórias móveis, abertas ou fechadas, permitirão a criação de ambientes com capacidade de receber de 10 a 100 visitantes.

O segundo andar da casa, foi reservado para mostras e exposições maiores, já que está mais distante do ruído da rua. Esse espaço será o lugar da arte, das histórias e dos grandes eixos narrativos. O piso abrigará ainda uma cozinha, para recepções e eventos de gastronomia. O terceiro e último piso não fará parte do espaço público da Japan House e será ocupado por outras entidades do governo do Japão presentes em São Paulo.