Perfil: Elisabete Sato – Ela está no comando

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Com 36 de Polícia e muita história para contar, Elisabete Sato é a nova diretora do DHPP

 Tamires Alês / Foto Divulgação

Elisabete3Maquiada, com roupas da moda, montada no salto alto, e com um acessório diferenciado: um distintivo pendurado no pescoço com uma bela corrente. Poderia ser a descrição da delegada Helô, personagem da novela global Salve Jorge, mas essa é Elisabete Ferreira Sato Lei. Com 56 anos, 1,57 metro de altura, e 36 anos trabalhando na Polícia Civil, ela comanda cerca de 700 policiais e é a mais nova “chefona” do Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).

Descendente de japoneses, filha de um tintureiro japonês e de uma empregada doméstica mineira, Elisabete nos últimos oito anos tem participado ativamente dos eventos e atividades envolvendo a comunidade japonesa no Brasil. “Sou sansei, meus avós paternos vieram do Japão e viveram em Mogi das Cruzes. Eu sou convidada para vários eventos da colônia, como a celebração do centenário da imigração japonesa no Brasil, a visita do príncipe do Japão, sou jurada dos eventos de Karaokê, na Liberdade, e também tive a oportunidade de visitar a terra dos meus ancestrais e voltei encantada pelo Japão, suas maravilhas e seu povo”, enumera.

A delegada, que começou a carreira como escriturária, no mesmo prédio do DHPP, enquanto ainda fazia faculdade de Ciências Biológicas, lembra emocionada como foi entrar novamente no edifício, dessa vez como diretora do Departamento. “A primeira vez que entrei aqui carregava meus livros de biologia e a marmita embaixo do braço. Após muita luta, dedicação e de me empenhar por 30 anos na polícia civil, foi com muita alegria e emoção que pisei aqui novamente, dessa vez como diretora do DHPP”, relata. “Gostaria que meus pais estivessem aqui para celebrar comigo essa vitória”, completa.

A paulistana é a primeira mulher a frente do DHPP. E no assunto pioneirismo, Elisabete se destaca. “Quando iniciei minha carreira como delegada quase não se viam mulheres nos corredores, eu era a única delegada. Meu chefe na época chegou a comentar que queria ver se eu não seria uma secretária melhorada. Não dei atenção à provocação e provei com o meu trabalho que eu era capaz”, lembra. Sua determinação foi fundamental para abrir caminho para outras mulheres seguirem a carreira. Hoje no Estado de São Paulo existem cerca de 500 delegadas, um número pequeno perto dos mais de 3.500 homens no cargo, mas muito respeitável se comparado há duas décadas onde o número de mulheres era praticamente zero. “Fico muito feliz e orgulhosa quando outras mulheres me procuram e dizem que se tornaram delegadas porque se inspiraram em mim”, conta satisfeita.

“Uma mulher galgar um cargo de confiança como esse é muito difícil. Sinto-me extremamente honrada em estar na direção do DHPP. Tudo o que eu vi e não concordei ao longo da minha carreira, hoje eu posso fazer diferente. É uma baita responsabilidade, mas dou o meu melhor pra ser motivadora, companheira, ir para as ruas e ter um bom projeto de gestão”, explica a diretora.

Mesmo com a correria e a falta de horário fixo no trabalho, “às vezes não tenho tempo nem para escovar os dentes”, a delegada não deixa de se cuidar e reservar um tempo para si e para a família. “Faço as unhas todos os sábados, cuido dos meus cabelos, passo meus cremes, e não abro mão de preparar o jantar para o meu marido sempre que possível, é um momento nosso, em que eu me distraio. Também adoro arear uma panela, é uma das ocasiões que deixo um pouco os problemas de lado. Tem que manter o bom humor e conciliar tudo”, revela bem humorada.

Mas… só um pouco de lado. Ligada nos “420 volts”, Elisabete dificilmente para de pensar nas questões do trabalho. “Fico o tempo todo maquinando, às vezes chego até a sonhar com a solução dos casos”, relata. “São muitos compromissos, é cansativo, só que tem que dá conta do recado. O mais importante é que faço o que eu gosto, homicídio é comigo mesma, eu amo esse Departamento. Claro que tenho que ter estômago, não é fácil, eu já vi de um tudo nessa vida, mas faço o possível para ser melhor a cada dia”, completa.

Como todas as pessoas, Elisabete também tem seus sonhos e objetivos, alguns nem tão simples de alcançar: “Quero aumentar o número de casos esclarecidos pelo DHPP, oferecer melhores condições de trabalho para os policiais, dar oportunidade para os colegas de trabalho. Mas, o meu principal sonho é ver a nossa polícia sendo respeitada e admirada, como é a polícia japonesa. Quem sabe um dia eu não verei”, finaliza. Quem sabe?

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Trajetória na Polícia

Para chegar à diretoria do DHPP, Elisabete percorreu um longo caminho. A jornada teve início em 1976, com 18 anos, como escriturária no antigo Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), na mesma época em que cursava a faculdade. Esse foi o pontapé inicial para uma carreira de sucesso na polícia civil.

No Departamento que dirige hoje, teve sua primeira passagem como investigadora. Após concluir o curso de direito, e ser aprovada no concurso para delegado, em 1989, trabalhou em distritos policiais da Capital, na Delegacia do Aeroporto e na 1ª Delegacia de Defesa da Mulher (DDM).

De volta ao DHPP, em 1991, na Divisão de Homicídios, chefiou a primeira Delegacia da Criança instalada no Brasil, um grupo de supervisão às delegacias da criança e foi assistente da divisão, além de ser vice-presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente.

Elisabete também atuou no combate ao micro-tráfico, trabalhando nas áreas próximas as escolas, quando liderou o Grupo de Apoio e Proteção à Escola no Departamento de Investigações sobre Narcotráficos (Denarc). Já em 1999 assumiu a Divisão de Proteção à Pessoa do DHPP, onde permaneceu até 2002, neste período representou a Secretaria de Segurança Pública (SSP) no Programa de Proteção à Testemunha.

Nesse mesmo ano foi nomeada titular do 78° DP, nos Jardins. Em 2007, a delegada assumiu a 4ª Delegacia Seccional Norte da Capital, onde atuou até 2010, quando foi convidada para chefiar a Divisão de Homicídios do DHPP. Em 2011, foi nomeada titular da 5ª Seccional, onde permaneceu até assumir a diretoria do DHPP. A delegada também é professora da Academia da Polícia Civil (Acadepol), desde 2004.