Voluntariado: doação de amor e esperança ao próximo

Texto: Tamires Alês

 De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), voluntário é o jovem, adulto ou idoso que, devido a seu interesse pessoal e seu espírito cívico, dedica parte do seu tempo, sem remuneração, a diversas formas de atividades de bem-estar social ou outros campos. Ajudar o próximo sem pensar em recompensas é o que milhares de voluntários fazem todos os dias em diversos setores da sociedade brasileira. Segundo a pesquisa “Outras Formas de Trabalho 2017”, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 7,4 milhões de pessoas realizam trabalho voluntário no Brasil, o equivalente a 4,4% da população de 14 anos ou mais de idade, a maioria mantém vínculos com instituições, aproximadamente 91% do total.

 

No Brasil existem inúmeras organizações que desenvolvem diversos projetos para ajudar quem mais precisa. Dentro da comunidade nipo-brasileira não é diferente. Diversas entidades assistenciais se destacam pelo trabalho que há anos realizam, seja cuidando de idosos, crianças ou pessoas com necessidades especiais. Instituições como a Assistência Social Dom José Gaspar – Ikoi-no-sono, a Associação Pró-Excepcionais Kodomo no Sono, a Sociedade Beneficente Casa da Esperança – Kibô-no-iê, e a Beneficência Nipo-Brasileira de São Paulo – Enkyo, que administra diversas entidades pelo estado de São Paulo, além de cuidarem da saúde e bem-estar, desenvolvem diversas atividades ocupacionais e recreativas para estimular a independência funcional e promover a inclusão social dos assistidos.

Na comunidade nipo-brasileira, os voluntários são a força motriz das entidades beneficentes. Eles estão presentes em diversos setores, auxiliam tanto nas tarefas do dia-a-dia, como na organização dos eventos, na captação de recursos e na administração das entidades, sendo os principais responsáveis por mantê-las vivas e funcionando, além de proporcionarem uma vida digna e feliz aos assistidos.

“O meu respeito e gratidão a todos os voluntários, independente do tempo que cada um se dedica a instituição, sem o nosso voluntariado não conseguiríamos manter as entidades ativas”, revela o presidente do Enkyo, Akeo Yogui. “Para nós do corpo diretivo, que também somos voluntários, a ação de todas essas pessoas abnegadas é como uma injeção de oxigênio, que renova as nossas energias e     nos motiva a trabalhar ainda mais pelas entidades”, enaltece.

 

“Os voluntários são o grande alicerce das nossas realizações. Como costumo dizer sempre, sozinhos não conseguimos fazer absolutamente nada, mas, com a ajuda dos amigos tudo se torna possível. A força do voluntariado é a grande mola propulsora para o sucesso das entidades”, ressalta o presidente da Kodomo no Sono, André Korosue, que há 47 anos atua na entidade, sempre de forma voluntária.

Por dentro das entidades

Com uma organização que impressiona, todas essas instituições, há anos, acolhem e cuidam daqueles que mais precisam. Sempre tendo no voluntariado seu grande alicerce. Confira, a seguir, um pouco sobre cada uma delas e como os voluntários estão presentes em suas atividades.

 

A Ikoi-no-sono é uma das mais antigas entidades da comunidade nipo-brasileira. Ela começou suas atividades em 1942, ajudando os imigrantes no período da 2ª Guerra Mundial. Em 1958, inaugurou o Jardim de Repouso São Francisco, em Guarulhos, e voltou seu trabalho aos idosos. Atualmente abriga 66 pessoas – com uma média de idade de 88 anos, mas conta com assistidos de mais de 100 anos –, que desenvolvem atividades como dança sênior, karaokê, pintura, teatro, cerâmica, proporcionando aos internos um envelhecimento ativo.

“Temos voluntários esporádicos e voluntários que trabalham diariamente em prol da nossa entidade. Durante os eventos, reunimos um grupo de voluntariado de mais de 1000 pessoas”, conta o presidente da Ikoi, Sunao Sato.

Também em 1958 foi inaugurada a Kodomo no Sono, associação sem fins lucrativos voltada ao desenvolvimento pessoal e social, bem como a assistência de pessoas com deficiência intelectual, promovendo o respeito às suas necessidades, e a visão de uma sociedade mais justa e inclusiva. A sua sede está instalada em Itaquera, zona leste da capital paulista, onde são assistidas 71 pessoas (homens e mulheres), na faixa etária de 28 a 77 anos. Estas pessoas, em seu cotidiano, recebem orientações vivenciais e dedicam-se a atividades terapêuticas e produtivas, como Oficina de Cerâmica e Taikô, além de atividades educacionais, sociais e de lazer.

“Os voluntários fixos da entidade podem-se considerar em torno de 400 pessoas que se distribuem entre diretoria, familiares dos assistidos, voluntários da campanha da Nota Fiscal Paulista, do artesanato e os que realizam atividades diversas na sede com os assistidos. Considerando aqueles que ajudam em atividades eventuais, como a realização dos eventos da Kodomo, o número de voluntários cresce para quase dois mil”, explica o diretor do voluntariado da associação, Caio Cesar Carlos Ferreira, que desde 2012 atua como voluntário na instituição.

No ano seguinte, em 1959, nascia o Enkyo. De caráter filantrópico, a entidade presta atendimento social e médico a milhares de pessoas todos os anos. Os serviços são oferecidos por meio de suas unidades espalhadas pelo estado de São Paulo: Centro Médico Liberdade; Hospital Nipo-Brasileiro; Hospital São Miguel Arcanjo; Assistência Médica Móvel (Junkai); Casa de Repouso Santos Kosei Home; Recanto de Repouso Sakura Home; Yassuragui Home; Casa de Repouso Akebono; Projeto de Integração Pró-Autista (PIPA); Centro de Ação Social Enkyo – Unidade Amami; e Casa de Repouso Suzano – Ipelândia Home. “Fica difícil mensurar, pois temos voluntários atuando nas nossas diversas entidades, mas com certeza mais de mil pessoas colaboram com frequência conosco”, conta Yogui.

 

Já a Kibô-no-iê opera desde 1970 no amparo à pessoa com deficiência intelectual, mantendo o convívio familiar, social, acesso à cultura, esporte e lazer. Na sede em Itaquaquecetuba, oferece os cuidados necessários para o atendido viver e se desenvolver. Atualmente, a entidade tem 65 residentes, que permanecem boa parte do tempo na instituição, e dois atendidos do Centro de Convivência, que fazem as mesmas atividades dos residentes, porém retornam para suas casas ao entardecer, mantendo assim um vínculo familiar mais forte.

“O voluntariado na Kibô está ligado a quase todas partes da entidade. Entre os que participam com frequência da vida diária da entidade, como os que participam só dos eventos temos por volta de 2000 voluntários”, explana a gerente geral da Kibô, Valéria Okuno.

 

Em prol do próximo

Pintar paredes, limpar salas, cortar cabelo, arrumar o jardim, realizar brincadeiras ou almoços especiais, doar mantimentos e roupas, colaborar na organização e realização dos eventos beneficentes, ou fazer um atendimento médico gratuito. Sejam grandes ações, ou simplesmente, sentar e ouvir as histórias de vida de um idoso. Um voluntário pode ajudar o próximo de diversas maneiras, com aquilo que ele sabe e tem de melhor. E o que eles recebem em troca? Não é dinheiro, mas algo muito mais gratificante: um sincero “muito obrigado”, sorrisos calorosos ou um abraço bem apertado.

E foi com a ideia de doar o que tem de melhor, ou seja, seu conhecimento e experiência em ensinar, que Faruco Zaima, de 76 anos, começou a ministrar as aulas de Atividade Física e Recreação, no Centro de Convivência do Idoso Enkyo, localizado no bairro da Liberdade, que oferece diversos cursos e atividades gratuitas aos idosos.

Desde 2010, Faruco – que é formada em Letras e foi estudar Educação Física, e se pós-graduar em metodologia e prescrição de exercícios para idosos – dedica o seu tempo, toda terça-feira, as suas duas turmas do Centro. Por lá, a professora ministra exercícios de baixa intensidade, para manter a funcionalidade dos idosos, além de atividades de ginástica cerebral. “Poder compartilhar um pouquinho do meu conhecimento para ajudar o próximo a ter mais qualidade humana é muito gratificante, isso não se compra”, revela.

Henrique Harada, professor de capoeira, de 36 anos, também compartilha desse pensamento. “O sentimento é único: gratidão! Poder ajudar, levar alegria e fazer o bem ao próximo e receber como pagamento uma gargalhada e um abraço apertado, não tem dinheiro que pague”, ressalta. Há quatro meses Harada leva seus ensinamentos de capoeira e manifestações de cultura brasileira aos internos da Kodomo-no-sono. “A capoeira proporciona aos nossos amigos assistidos, coordenação motora, lateralidade, psicomotricidade, a inclusão social, o despertar dos interesses, a noção espacial, entre outros”, explica.

O jovem também tem um recadinho para quem também deseja se tornar um voluntário: “O voluntário precisa vir de coração aberto para aprender também, faça disso uma missão e não uma obrigação”, enaltece. “Seja um voluntário, você sempre tem algo para ensinar e também a aprender”, completa.

Como ajudar

 Aos que tiverem interesse em colaborar, todas as entidades aceitam doações de roupas, móveis, fraldas geriátricas, produtos de higiene e limpeza, alimentos ou mesmo doações em dinheiro. “Fale conosco que sempre há uma forma de ajudar”, ressalta Valéria.

Segundo ela, a “Kibô sempre precisa de ajuda. Quer cooperar com a digitação de cupons fiscais, tudo bem. Tem alguma atividade profissional que pode atender os residentes, você pode auxiliar. Ou mesmo visite nossos residentes. Eles adoram visitas e conhecer gente nova. Você pode juntar seus amigos e fazer uma gincana com eles. Fale com a gente pelo e-mail contato@kibonoie.org.br ou pelos telefones 11. 5549-2695 e 4648-1515”, explica.

Os voluntários são sempre muito bem-vindos como ressalta Yogui: “Temos entidades espalhadas em várias regiões do Estado de São Paulo, para colaborar com o Enkyo basta procurar a unidade mais próxima da sua casa e se cadastrar como voluntário. Nós precisamos de tudo quanto é tipo de voluntário para manter nossas entidades funcionando, especialmente, durante a realização dos eventos, que são um dos principais pilares de arrecadação das instituições”, conta.

“Existem muitas maneiras de ajudar a Ikoi. Uma delas é com o presente solidário, ao invés de presentes, peça aos seus convidados doações para a nossa entidade; ou indo até a Ikoi e realizando um almoço diferenciado para os nossos internos; colaborando na reforma dos móveis e utensílios que recebemos como doação e que depois são vendidos em nossos bazares; ajudando na organização dos diversos eventos que realizamos ou participamos; digitando as notas fiscais recebidas pela entidade; ou, simplesmente, passando umas horas conversando, dando atenção e carinho para os nossos assistidos”, enumera o vice-presidente da entidade, Remei Yoshioka, que há anos atua na entidade. “Os interessados em colaborar podem entrar em contato pelos telefones 11. 3208-7248 ou 2480-1122 e dizer quando e de que maneira pode ajudar. Aceitamos todo tipo de colaboração”, esclarece Sato.

“Convido aqueles que desejam ser um voluntário da Kodomo em qualquer área a entrar em contato conosco por meio do nosso site kodomonosono.org.br/omeujeitodeajudar/, da página no facebook.com/kodomonosonobr/ onde possui um grupo para solicitação de voluntários ou pelo nosso e-mail kodomonosono.voluntario@gmail.com”, avisa Caio. “Para finalizar gostaria de registrar como é importante participar do trabalho voluntário. Através dele construímos muito laços de amizades, aprendemos e nos especializamos em muitas atividades que não fazem parte da nossa rotina diária. Mais do que uma realização pessoal de estar fazendo o bem para o outro, o voluntariado com pessoas com deficiência intelectual nos ensina a resgatar a pureza e o amor com as outras pessoas e superar todas as dificuldades com alegria e garra, assim como os assistidos da entidade o fazem”, conclui.

 

“Se cada um fizer um pouquinho, juntos faremos a diferença para as pessoas que não tiveram as mesmas oportunidades que nós”, finaliza Yogui.

Calendário da esperança

 Confira os principais eventos realizados pelas entidades beneficentes da comunidade nikkei ao longo do ano. Além de colaborar como voluntário na organização das festas, é possível ajudar participando desses eventos

– Maio/2019: 7º Temaki Matsuri – Assistência Social Dom José Gaspar – Ikoi-no-sono;

– Junho/2019: Festa Junina com Boi no Rolete – Casa da Esperança Kibô-no-iê;

– 20.07 a 11.08.2019: 51ª Festa da Cerejeira em Flor – Recanto de Repouso Sakura Home;

– 20 e 21.07.2019: Festival Kodomo-no-sono – Associação Pró-Excepcionais Kodomo-no-sono;

– 28.07.2018: 41ª Festa da Azaleia – Yassuragui Home e Casa de Repouso Akebono;

– Agosto/2019: 45º Bazar Beneficente – Assistência Social Dom José Gaspar – Ikoi-no-sono;

– 01.09.2019: 35ª Festa do Ipê – Centro de Repouso Suzano – Ipelândia Home;

– Setembro/2019: Festa do Verde – Casa da Esperança – Kibô-no-iê;

– 06.10.2019: 45ª Festa da Primavera – Casa de Repouso Santos Kosei Home;

– 27.10.2019: Temaki Fest – Associação Pró-Excepcionais Kodomo-no-sono;

– Novembro/2019: Jantar Show Beneficente das 4 entidades – Ikoi-no-sono, Kibô-no-iê, Kodomo-no-sono e Yassuragui Home;