Educação: Orientais mostram os segredos para se dar bem nos estudos

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Herança ancestral, a dedicação aos estudos ainda é levada tão a sério nas gerações atuais quanto nas anteriores

Fotos Divulgação e Arquivo Pessoal

Não é de hoje que se ouve dizer um dito popular, do tipo: “Quer passar no vestibular, mate um japonês”…. É verdade que ao longo das décadas, não só os japoneses têm conquistado o ponteiro da lista dos classificados nos vestibulares, mas muitas etnias   têm marcado presença. O fato é que se por um lado os resultados já não são tão “exclusivos” como há um tempo, as famílias orientais, de um modo geral, tem como fator cultural a prioridade dada à educação de seus filhos.  Esta é a opinião da professora e pesquisadora da USP, Leiko Matsubara Morales. “ Acredito que culturalmente os japoneses sempre valorizaram o estudo. No Japão quem estuda é respeitado e professores são bem valorizados tanto em termos profissionais, além de ter um reconhecimento social. No Japão, há uma cultura por estudo, desde pequenos as crianças vão para juku, um tipo de cursinho, tem professores particulares e até lugares que  – sem nenhuma especialização  – alugam espaços pequenos para estudantes estudarem em silêncio… Outro ponto interessante são “mangás didáticos”, eu chamo assim porque no mangá dá para aprender tudo, principalmente a história do Japão, bem complicada, mas dá para ler como uma fonte de diversão e ao mesmo tempo aprender muito. Tudo isso é herança do teragoya, um sistema de ensino informal que foi criado por monges e samurais aposentados”, relata a pesquisadora.

E segundo ela, a herança ancestral  quando o assunto é estudo, resultou num comportamento peculiar de pais que prezam pela boa formação acadêmica dos filhos. “Vejo que esses pais têm uma forma criativa de educar os filhos. Eles são participativos, criam ambientes  positivos para o estudo, acompanham os filhos nos estudos, viajam com eles, levam a eventos culturais…   E talvez por terem sido uma geração que nem sempre teve  uma boa educação acabam dando muito mais aos filhos. Hoje em dia, a maioria investe na boa educação, mas nem todos são tão rigorosos assim, já que estão mais economicamente estáveis”, completa.

Estudos mostram o quanto esse investimento em educação é levado a sério pelos orientais, em especial os japoneses e descendentes. No estudo “Trajetórias Escolares”, de Hiromi Shibata, por exemplo, um dado chama a atenção: o Colégio Bandeirantes, um dos mais tradicionais de São Paulo, tinha na década de 30, aproximadamente, 47 mil estudantes. Deste total, quase 9 mil, ou seja, 19% eram descendentes de japoneses. Na década de 70, esse número saltou para 32,74%.  Outro dado aponta que os japoneses e descendentes não dependiam da iniciativa pública para realizar a escolarização dos filhos. “Antigamente, na década de 40, 50, os colégios do interior eram todos particulares. Eu mesmo, trabalhei na roça de algodão e arroz, com meus pais… Caminhava quatro quilômetros para chegar até a escola. Depois, mudamos para São Paulo…Prestei a Poli-USP e, em 1953, já estava formado. Hoje, ainda dou aulas lá, como professor convidado e posso dizer, como alguém que vive nesse meio acadêmico, que ainda hoje, cerca de 15% dos alunos da USP são descendentes de japoneses”, orgulha-se o professor Kokei Uehara, que também é presidente de honra do Bunkyo – Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa.

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Histórias semelhantes como a vivida pelo professor Kokei se repetiram de geração em geração na comunidade nipo-brasileira. É o que relata Leiko. “Pessoalmente, acompanhei e vivi esse período em que meus colegas todos foram estudar em colégios melhores para entrar em uma faculdade pública. No interior era comum isso acontecer. Os pais mandavam seus filhos em pensionatos ou pensões de japoneses para frequentar escolas com condições melhores de estudo, um local distante da sua casa. Muitos filhos ficaram separados de suas famílias em nome do estudo, isso antes de entrar na universidade. Houve época em que muitos nikkeis escolhiam a carreira de médico, engenheiro, advogado, creio que seja na década de 1970 a 1980, hoje em dia, há uma diversificação na carreira dos nikkeis. Nesta época se estudava muito”, relembra ela.

Mas, na opinião da educadora, tal feito não se restringe aos descendentes de japoneses e orientais em geral .” O que eu vejo na história é que apesar de os nikkeis terem integrado à sociedade brasileira depois, dado o tempo de imigração em relação a outros imigrantes, eles conseguiram chegar a um ponto de competir com os que já estavam instalados aqui, e isso chamou muito a atenção da mídia e criou-se esta associação dos japoneses aos estudos”, pondera ela.

E, para finalizar, Leiko enfatiza a importância de se dosar o incentivo à educação.  “Não  se pode dar apenas educação e criar um “monstrinho intelectual” e não desenvolver suas emoções. Outra coisa que costumo falar aos meus alunos universitários que não é para eles tirarem apenas nota, mas sim desenvolver habilidades sociais e comunicativas. Os nikkeis são um pouco retraídos, têm dificuldade de se comunicar, e isso acho que deve ser melhorado para ser um profissional de sucesso”, finaliza.

Exemplos de quem chegou lá – Segredos e dicas

Em um universo concorrido por uma vaga nas  melhores universidades do País, conseguir tal feito é motivo de muito orgulho e realização para o estudante e sua família. Neste ano, a maioria das Universidades já encerrou o período de inscrições para as turmas de 2013. Entre os cursos mais disputados estão profissões tradicionais, como Medicina, Engenharia e Direito.

Em novembro, acontecerá o Enem, o Exame Nacional do Ensino Médio, cuja pontuação é usada para selecionar candidatos que aspiram a uma vaga em uma das 40 universidades do País.   Neste ano,   seis milhões de estudantes estão inscritos no Enem e a classificação final deve sair no fim de dezembro. Foi dada a largada da época de apreensão e expectativas….

Os quatro entrevistados desta reportagem passaram pela experiência estudantil e conquistaram a sonhada vaga.  São eles, Henrique Uehara, 20 anos,  Rafael Nakanishi, 19 anos, Carolina Kajiyama, 19 anos e Thie Uehara, 20 anos. Acompanhe, a seguir, um pouquinho mais da história de quem chegou lá!

Henrique Uehara: determinação samurai

O jovem Uehara teve verdadeira determinação samurai, quando decidiu que iria conquistar o grande sonho de sua vida: se formar em Engenharia Mecatrônica na Poli-USP.

Para isso, não poupou esforços: abriu mão das baladas com os amigos, do soninho gostoso  das tardes de domingo, das aulas de natação e até de uma alimentação saudável. “Fiz o Ensino Médio no Exatus Colégio e Vestibulares. Quando estava no 3º ano do colégio, cursei também o Etapa, focando o vestibular. Depois de formado no colegial, fiz mais um ano de cursinho no Etapa… Mesmo com tanto esforço, antes de conseguir entrar na Poli, falhei duas vezes em minhas tentativas”, relembra ele.

Na 2ª tentativa de passar na Poli, Uehara conseguiu ser aprovado na Ufscar, em São Carlos e na Unesp, em Campinas. “Fui na companhia de meu pai visitar os campus. Mas, muitos fatores me levaram a abrir mão dessa oportunidade. Eu queria estudar perto de casa, ficar próximo à família e aos amigos… Então, decidi estudar ainda mais para passar na Poli”, conta entusiasmado.

A partir daí, as frustrações das primeiras experiências deram fôlego ao estudante.  Uehara abandonou as aulas de natação, as baladas com os amigos, muitas horas de sono e perdeu as contas de quantas vezes  jantou “cup noodles”  para não perder palestras importantes na sua preparação. “Outro ponto fundamental nessa trajetória foi o apoio da minha família, em especial dos meus pais e do meu avô. Além disso, havia os amigos que estavam passando pela mesma situação. Isso me fortaleceu porque eu sentia que não estava sozinho naquela luta”, diz ele. Até a companhia dos familiares teve de ser um pouco sacrificada. “Eu ia ao clube com a minha família. Mas na época de preparação para o vestibular, troquei esse lazer pelos finais de semana de simulados… Não foi nada fácil atingir o meu objetivo”, completa.

Hoje,  Uehara relembra com orgulho de sua trajetória estudantil e dá um conselho para quem vive situação semelhante: “Não ligue para a opinião de terceiros, nem para as dificuldades. Pois, quando conseguir realizar seu sonho vai ver que tudo valeu à pena”, finaliza.

 

 

Rafael Nakanishi : medalha em matemática

Calado, um pouco tímido, mas com um sorriso generoso e uma determinação que foi fundamental para o maior feito conquistado até agora em sua vida: ser aprovado na Poli-USP, em Engenharia Mecatrônica.

Antenado em animês, músicas pop coreanas e fã de cosplay,  o estudante Rafael Nakanishi, 19 anos, começou sua trajetória estudantil rumo ao sucesso, em 2005, quando participou da OBMEP – Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas.

Na ocasião, ele ganhou uma medalha e uma iniciação científica júnior, frequentando o cursinho preparatório Etapa, aos sábados, para ter aulas de matemática. Após dez meses de curso, Nakanishi foi escolhido pela escola para ganhar uma bolsa integral. Daí para frente, o sansei não poupou esforços e se dedicou aos estudos focados no vestibular, abrindo mão dos finais de semana em família. “Sempre estudei em escola pública. Mas, acredito que o fato de ter feito o Ensino Médio em uma escola que é focada em vestibulares, foi o grande diferencial para eu conquistar uma vaga na Poli”, pondera ele.

A própria escolha do  curso universitário se deu na época do cursinho. “Havia um programa onde os estudantes do Ensino Médio passavam uma semana conhecendo melhor a Poli. Eu participei e foi a partir disso que minha vontade de entrar na Poli aumentou ainda mais”, relembra.

Hoje, cursando o 2º ano da Poli, Nakanishi já desenvolve trabalhos científicos na Universidade, ganha uma bolsa-auxílio, participa dos eventos da USP e, de quebra, está namorando uma colega de curso.

 

 

 

Carolina Kajiyama : do colegial direto para a Poli

Nascida em Chiba, Japão, a jovem Carolina Kajiyama, 19 anos, teve de redobrar os esforços para estudar, já que se mudou de cidade algumas vezes, passando por Sorocaba e Apiaí, em São Paulo e, Passos, Minas Gerais. No Ensino Médio, ela conquistou uma bolsa de estudos e começou a focar os estudos nos vestibulares, sem recorrer a cursinhos preparatórios. “Quando comecei a focar no vestibular o tempo de estudos aumentou, pois tinha como meta completar duas apostilas muito grossas, de exercícios e matérias resumidas, até a primeira fase da Fuvest. Às vezes até fazia alguns exercícios nos intervalos das aulas”, relembra a estudante de Engenharia Mecânica da Poli-USP.

Na ocasião, relembra, ela  até deixou de cursar inglês para dedicar-se mais aos preparativos pré-vestibulares.

Para ajudar e incentivar a filha, a família decidiu não viajar por um período deixando o lazer um pouco de lado. Para Carolina, o sacrifício valeu à pena. “Com certeza foi muito válido, pois  desse modo consegui entrar na USP, conhecer e fazer parte de um ambiente diferente do qual havia vivido até agora. Na Poli há várias opções de atividades extracurriculares. Eu, por exemplo, comecei neste semestre uma iniciação científica e treino softball. Além disso, há a oportunidade de fazer intercâmbio, o que eu pretendo fazer no quarto ano”, planeja ela.

Para quem almeja o mesmo sonho, Carolina dá uma dica: “esteja preparado ou não para a prova, é importante manter a calma, não ficar ansioso e ter dormido bem no dia anterior à prova. Muitas pessoas que têm grandes chances de passar no vestibular não conseguem por causa desse tipo de detalhe”, observa.

 

 

Thie Uehara : futura médica

O sonho de ser médica vem de longa data e para realizar tal feito, a nikkei Thie Uehara, 20 anos, sabia que teria de estudar muito e, em especial, encontrar uma escola que oferecesse todas as ferramentas ideais para que ela atingisse seu objetivo.

Foi o que ela fez. Passou a cursar o Exatus, Colégio e Vestibulares, cujo método  é o sistema de ensino Poliedro.  “Embora eu tenha estudado em escolas excelentes, no Exatus, além do ensino excepcional, eu encontrei uma segunda casa e o incentivo de uma segunda família”, diz relembrando com carinho toda a dedicação dos professores do colégio.  “O Exatus contribuiu de forma  excepcional na minha formação, não só curricular, mas, principalmente, como pessoa”, acrescenta a estudante do primeiro ano da   Faculdade Estadual de Medicina de Marília (FAMEMA).