Opinião: Samba do Crioulo Doido

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Fosse vivo e Estanislau Ponte Preta estaria acusando os políticos brasileiros de plágio. Depois que a Justiça Eleitoral liberou as coligações em todos os níveis, os interesses eleitoreiros e a falta de vergonha dos políticos estão fazendo das próximas eleições um verdadeiro “samba do crioulo doido”. É como torcer para times diferentes em torneios diversos. Corintiano no Paulista; argentino na Copa do Mundo; e vascaíno no Brasileirão. Como diz a expressão popular, “pode isso, Arnaldo”? 

Na base do “toma lá dá cá” (um dá o horário na propaganda eleitoral, outro retribui com cargos e promessas), os partidos foram montando chapas que são como salada de maionese: legumes de várias cores e tipos, enlameados com pasta escorregadia para dar sabor. Em vários estados estão montadas chapas com candidatos a governador, vice e senador de partidos distintos. Estes, por sua vez, apóiam candidatos diferentes a presidência da república. E acontecem situações nas quais um candidato a presidente apoia um candidato a governador, mas não o seu vice. Ou vários candidatos a governador ao mesmo tempo. No sábado, sobe no palanque e pede votos para o candidato A; no domingo, pede para o candidato B. Nessa eleição, o eleitor pode estar atirando no leão e acabar acertando a girafa.  Deu para entender? Não? Pois é, não é para entender, como tudo que vem da classe política deste país – é para engolir.

Dentro da comunidade nikkei de São Paulo, a confusão não vai ser menor. Como o candidato vai explicar ao eleitor que, devido às “conveniências” de momento do chefe do partido, caso eleito fará parte da bancada de apoio à presidente, por quem nutria pouca simpatia até pouco tempo atrás? E que aqueles que até recentemente eram seus companheiros, agora são seus adversários políticos? Nesta posição se encontram os candidatos a deputado federal pelo PSD, Walter Ihoshi e Junji Abe, que terão de pedir votos para Dilma e para Paulo Skaf (PMDB) a governador. Ficam, então, na oposição ao PSDB de Serra, de quem sempre foram aliados e de quem o chefe Kassab foi vice-prefeito (a partir de onde alavancou o seu poder e prestígio político).

Outros explicarão que querem Alckmin como governador e Serra para senador, mas apoiam Eduardo Campos para presidente, como se essa incoerência política fosse uma coisa normal. Casos dos candidatos do PSB a deputado federal, Keiko Ota e Pedro Mori. Não vai ser engraçado ter os nomes de Alckmin e Eduardo Campos no mesmo santinho?

Os candidatos do PMDB em São Paulo não terão muito o que explicar, afinal, o candidato do PT é tão fraco que até a presidente já desistiu e deve apoiar Skaf na tentativa de tirar os tucanos do Palácio dos Bandeirantes. Difícil será para o deputado estadual e candidato à reeleição Jooji Hato: como explicar ao seu eleitorado o motivo de não se contentar somente com um herdeiro político – o atual vereador George Hato – e lançar outro filho para disputar uma vaga na Câmara dos Deputados? Muito do mesmo, na política brasileira, quase sempre é para satisfazer a sede de poder dos mesmos, dificilmente para juntar forças e trabalhar para o bem do País.

Os candidatos do PSDB, caso do deputado estadual Hélio NIshimoto, estão um pouco mais tranquilos, pois a incoerência fica só no candidato a vice governador, que é do PSB de Eduardo Campos, adversário de Aécio Neves na corrida ao Palácio do Planalto. O que o deputado tem que explicar é a forma pouco usual que sua assessoria aborda algumas lideranças da comunidade para obter apoio, quase como cobrança de favores passados. Mas é do PSDB que sopram ventos novos e promissores. O vereador da cidade de Santos, Sadao Nakai, vem muito bem recomendado pelos eleitores praianos (foi o mais votado na última eleição) para disputar uma vaga a deputado estadual.

Já o incansável Willian Woo, candidato a deputado federal pelo PV, tem que provar que a mudança de partido, a segunda em menos de quatro anos, foi ideológica e não por interesses meramente eleitorais. Plantar umas árvores pela periferia ajudaria um pouco.

E restam os nanicos, candidatos de si mesmos e com poucas chances de sucesso, a quem os eleitores nem prestam atenção. Mas, cuidado. Como na Copa do Mundo, vai que é a vez das zebras. Afinal, se o samba é dos doidos, qualquer um pode dançar!

 

NELSON FUKAI é engenheiro, escritor e analisa questões do presente e passado da comunidade nipo-brasileira. E-mail: nelsonfukai@yahoo.com.br