PROBLEMAS DE FAMÍLIA

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Durante muito tempo, nas famílias nikkeis funcionava o sistema que tinha como base o irmão mais velho (tyonan). Este tinha incumbência de dar subsídios aos irmãos mais novos até que estes se tornassem independentes, ficava sob a sua responsabilidade (e da família que viesse a formar) o sustento e os cuidados aos pais até a morte destes e como compensação, herdava o negócio e os bens da família. Esta prática começou a cair quando os irmãos mais velhos começaram a fugir dessas responsabilidades por motivos diversos. Daí que depois de um certo tempo, os pais começaram a morar sozinhos, foram envelhecendo e adoecendo, precisando de cuidados. Como a geração passada era de muitos irmãos e ainda tinham forte espírito de gratidão aos pais, eles se revezaram nos cuidados, tornando menos penosa essa tarefa.

Estamos no limiar dessa situação. A grande maioria desses velhos já morreu e está começando outra geração, dos pais idosos que tem um ou dois filhos, não raramente solteiros, a grande maioria com vida profissional e social bastante ativa, acrescentando aos casados a tarefa de criar os filhos. Paralelamente, está cada vez mais difícil morrer, mas não morrer não significa viver bem. O seja, vem aumentando muito o período em que um idoso necessita de cuidados antes de morrer. E a pergunta que fica no ar: “quem vai cuidar desses pais idosos e dependentes nesse longo período? ”

Desse assunto posso falar com muita propriedade. Estou com 67 anos, que classificaria como início da terceira idade. No que foi possível, dividindo a tarefa com irmãos e cunhados, ajudei a cuidar dos meus pais e sogros, na fase final de suas vidas. Agora eu é que estou entrando na fila. Apesar de ainda ser totalmente independente para as tarefas rotineiras, tenho me preocupado com o futuro próximo. Quando virá um Alzheimer, ou um AVC, ou uma outra doença que me deixe dependente de cuidados? E quando isso acontecer o que deve ser feito?

Na verdade, está é uma questão que todos deveriam começar a se preocupar bem antes, quando tem saúde e renda para definir seu futuro. A aposentadoria no Brasil para quem não faz parte da casta de privilegiados, não garante renda substancial para fazer frente às despesas que a maioria vai ter quando a velhice chegar. Então é fundamental fazer um pé de meia e ter uma renda complementar, para não ter que depender da ajuda dos filhos, o que não é nem seguro e nem recomendável. Mas dinheiro resolve metade do problema. A outra metade vai depender de preparar o espírito para qualquer situação que venha a acontecer. No caso de ficar dependente, não posso deixar que uma decisão sobre o que fazer fique nas mãos dos meus filhos. Que por gratidão irão se sacrificar por uma situação que não tem solução. Então de forma espontânea e lúcida, é melhor deixar claro que a preferência é por ser internado em uma clínica, caso essa situação venha a acontecer. Existem hoje excelentes instituições destinadas aos idosos, com estrutura para dar a eles todo o conforto possível. Seria muito egoísmo prejudicar a rotina dos familiares, por um capricho em uma situação irremediável.

Claro, cada caso é um caso e pode ser que nada disso aconteça e a morte na velhice chegue serenamente antes da dependência. Mas não é bom apostar todas as fichas nisso porque, como diz a sabedoria popular, “é melhor prevenir do que remediar”, porque nesse caso nem há como remediar!!