Sem futuro, por Nelson Fukai

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Tão logo os imigrantes japoneses conseguiram se arrumar mais ou menos no Brasil, a primeira coisa que fizeram, depois de inaugurar a escolinha, foi limpar um terreno, improvisar  luvas, tacos e bolas e se deliciar com a prática do beisebol…

E durante décadas a integração da comunidade, desde os assentamentos rurais, aos bairros da capital e às áreas urbanas das cidades do interior, foi feita através deste esporte. Os grandes jogadores eram admirados pela comunidade e cobiçados pelas moças, os times fortes eram o orgulho de bairros e cidades e os técnicos eram respeitados como grandes professores e líderes. Tudo foi feito de forma bem organizada: só para exemplificar, a Federação Paulista de Beisebol e Softbol foi criada há mais de 65 anos.

Desde que meus filhos começaram a praticar o beisebol no final dos anos 80 do século passado, passei a acompanhar as coisas que acontecem no beisebol e principalmente no softbol, onde atuei como técnico por alguns bons anos. Nos anos 90 aconteceu um sopro que elevou novamente o beisebol às alturas. A renovação na direção da Federação Paulista de Beisebol e Softbol, seguida da criação da Confederação Brasileira, deu novo alento ao esporte, principalmente com a vinda maciça de treinadores cubanos, que trouxeram técnicas modernas que elevaram o beisebol brasileiro a um novo patamar. Técnicas ultrapassadas ensinadas pelos velhos senseis foram abandonadas e os novos jogadores foram criados com um modo quase  profissional de jogar o beisebol. No início dos anos 90, eram dez as equipes de beisebol que disputavam a categoria menor na capital. No interior passavam de três dezenas. Mesmo no softbol, eram sete as equipes na capital. Como classificavam apenas duas para o Campeonato Brasileiro, o torneio classificatório da capital era uma guerra, com direito a pressões sobre juízes, mudança de calendário, impugnações e outras mutretas. Mas, se os cubanos trouxeram coisas boas, também deixaram um pesado legado. Até então, a grande maioria dos técnicos de beisebol e softbol eram ex-jogadores, que trabalhavam de forma voluntária. Mas como os cubanos eram remunerados, os daqui também começaram a exigir remuneração. Quase que simultaneamente começou a febre do softbol e beisebol dos veteranos. Os torneios de softbol para veteranos chegavam a reunir mais de 40 equipes. Daí, nem pagando os clubes conseguiam mais arrumar um bom técnico, os ex-jogadores preferiam jogar a serem treinadores. Com a volta da maioria dos cubanos para o seu país de origem, técnicos competentes passaram a ser disputados a peso de ouro, e muita gente fez disso a sua profissão.

A partir daí era questão de tempo para o declínio do beisebol e softbol. Os times que tinham estrutura para pagar bons salários aos técnicos (quase sempre apoiados em grandes clubes), afora outras despesas, conseguiram se manter. Os times sem estrutura, que eram maioria, acabaram desativando as suas equipes. Hoje, na capital, não passam de três a quatro as equipes ativas nas categorias menores, tanto no beisebol como no softbol. Os últimos campeonatos brasileiros de softbol da categoria mirim não conseguiram reunir mais de dez equipes, mesmo tendo a participação aberta (sem necessidade de classificação). O beisebol está um pouco melhor, mas muito longe do que tinha nos anos 90.

O que fazer para reverter esse quadro sombrio? Este é um grande desafio, um pouco para Jorge Otsuka, o atual presidente da CBBS, mas principalmente para os que vierem a lhe suceder. Porque o sucesso das equipes brasileiras em torneios internacionais não está conseguindo motivar crianças a praticarem o beisebol e o softbol e nem os dirigentes de clubes a criarem estrutura para tal. Precisa de algo mais e é este algo mais que precisa ser pensado pelas pessoas que comandam. É isso. Ou o beisebol vai continuar a ser um esporte com um grande passado, mas sem futuro no Brasil!!

NELSON FUKAI é engenheiro, escritor e analisa questões do presente e passado da comunidade nipo-brasileira. E-mail: nelsonfukai@yahoo.com.br