Opinião: Equívoco

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 Andou rodando pela Internet, cenas da recepção que o cônsul geral do Japão em São Paulo ofereceu aos integrantes da equipe de rúgbi desse país, evento que aconteceu na residência oficial. Num salão decorado com quadros que, presumo, sejam valiosos, membros da escola de samba Águia de Ouro batucavam como de praxe e, como de praxe, as sambistas, vestindo biquínis audaciosos, puxavam os jovens japoneses meio que a força, para que caíssem no samba. Alguns se aventuraram, mas a maioria não se sentia confortável naquela algazarra.  O filme é curto, mas a farra deve ter se estendido por algumas horas.

Considerando que não sou japonês, não pago impostos lá, não possuo bens ou propriedades naquele país, esse é um assunto em que não devo me meter. O dinheiro que gastaram para trazer e hospedar essa delegação para São Paulo e os cachês que pagaram para um show que durante as Olimpíadas eles vão se encher de tanto ver, não vem dos impostos que pago, então nada tenho a comentar. Parodiando um velho refrão, “eles que são japoneses, eles que se entendam”. Entretanto se a recepção foi sugestão de algum membro da comunidade, com o objetivo dar aos atletas japoneses uma amostra da integração dos nikkeis no Brasil, essa pessoa cometeu um grande equívoco. Aquela realidade não tem nada a ver com a nossa comunidade. Um grupo de nikkeis tem participado dos desfiles de carnaval por essa escola, mas como uma ala extraordinária. Esses nikkeis não fazem parte da comunidade da agremiação, o samba não fez parte de suas vidas e tudo não passa de uma curtição momentânea. Certamente se perguntarem para essa gente quem foi Nelson Sargento, a maioria vai responder que foi um militar. E também não sabem cantarolar duas músicas do Cartola, expressão máxima do samba-poesia. Então, não tinha nada que mostrar escola de samba para a equipe japonesa de rúgbi, não acrescenta nada. Os nipônicos ficaram meio que constrangidos e a comunidade perdeu uma chance de ouro para mostrar alguma coisa de bom que os nikkeis estão fazendo no Brasil

 Não sou apreciador da música japonesa e, portanto, não sou fã, artisticamente falando, do cantor Itsuki Hiroshi. Mas como pessoa passei a admirá-lo depois que ele foi visitar um asilo de idosos, entidade mantida com o trabalho incansável de membros da comunidade nikkei. E nesse trabalho de assistência a necessitados, a nossa comunidade está de parabéns. Crianças desamparadas, idosos desamparados e pessoas com debilidade mental, são acolhidas e recebem total atenção de entidades como o Kodomo-no-Sono, Ikoi-no-Sono e Kibo-no-Ie. Essa é, sem sobra de dúvida, a melhor faceta da comunidade nikkei no Brasil. São centenas de nikkeis que trabalham arduamente para atenuar o sofrimento e levar conforto e alegria a pessoas, a quem o destino subtraiu alguma coisa. Se a visita do Itsuki Hiroshi for mostrada pela tv japonesa, certamente eles terão uma boa imagem do que os descendentes dos imigrantes japoneses estão fazendo de bom nessa terra de Cabral.

 Tanto esforço para fazer com que os japoneses apaguem a imagem de que no Brasil só tem índio e samba e dão exatamente isso a eles? Muitas vezes a grande alegria não vem do samba, mas da ajuda para aliviar a dor alheia. Esse é o nosso samba enredo!!

——————————————————————————————————————————————————–Aviso aos marilienses sessentões e setentões – Vai acontecer no dia 17 de setembro de 2016, o Grande Encontro-Jantar do ANIMA – Amigos Nikkeis de Marília. Maiores detalhes, visitar a página “Amigos marilienses” no Facebook, ou entrar em contato – nelsonfukai@yahoo.com.br. Apressem pois os participantes serão limitados a 100 pessoas.