Tradição: Evolução do comportamento okinawano

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Desde os tempos remotos o homem tem dificuldades e anseios, lutando sempre para sobreviver sobrepondo uma série de barreiras, principalmente, problemas de ordem psicológica, sempre procurando uma referência para se apoiar e obter a sua salvação…

Shinji YonamineA vida nos faz ter e sentir as sensações de bem estar e de dor, mas o medo é a forma que nos faz protegermos de algum perigo, sempre lutando pela vida, criando as mais variadas formas e comportamentos para se viver mais tempo possível. A adversidade da natureza, aproximou as pessoas criando um círculo comunitário e familiar, através do Yuimaru (Yui – receber, Maru – se doar), retribuir (espírito solidário) fortalecendo o poder da palavra e do diálogo.

O comportamento tinha sua base na doutrina da obediência aos costumes e tradições, originados do culto familiar. Quaisquer transgressões não era considerada um mero desacato, mas sim um pecado Batikanjundo (castigo divino), tornando-se os princípios morais em hábitos, através do uso de provérbios em suas ações.

O sentimento ético do povo fez criar uma sociedade solidária, em que a cortesia e o respeito prevalecem. Assim, é a filosofia de vida de que o mundo espiritual contempla todas as nossas ações aqui na Terra e, impede o homem de fazer coisas erradas, mostrando a nós que não estamos sozinhos neste universo, acompanhado por um mundo paralelo, espiritual.

O homem teve o seu princípio, vivendo nas cavernas, e a primeira iniciativa foi transpor obstáculos na vida, aprender a andar, a falar, e tirar as “arestas” da vida por meio da arte de sorrir.

O poder da palavra criou uma grande força através da comunicação, desenvolvendo o diálogo, passando ensinamentos de pai para filho.

Ao sair da gruta encontra uma natureza exuberante para sua sobrevivência, porém a natureza como sabemos é constituída de coisas boas e ruins, o medo aproximou as pessoas, criando o amor. O homem não podia viver somente de amor, ele tinha que explicar outros fatores, que condicionavam o terror e o medo, a exemplo disso as intempéries como: terremotos, tempestades, furacões, trovões e nevascas, para tudo isso o homem começou atribuir a um elemento maior.

Aprender a ver o lado bom das coisas ruins, de acordo com o provérbio: Indi Indirê Tii Hiki (encare as dificuldades com a consciência, sem usar a violência, não vá pelo impulso, use a consciência sem violência, das coisas ruins sempre tire lição do lado bom). Por exemplo: tufão é coisa ruim, mas em compensação traz a água.

A maior dificuldade em Okinawa era a água e o solo árido, foi um povo sofrido, por este motivo fez com que as pessoas dividissem os problemas, por uma questão de sobrevivência Kurudhimi o Wakiate Ikiru Tameni (você tem que dividir, as dificuldades para sobreviver), só que todas as adversidades do mundo vieram para o bem. Por exemplo: o furacão derrubou a casa e devastou a plantação, coisa ruim! Só que ocorre ao contrário aquela coisa ruim, trouxe coisa boa, como? Trouxe a chuva e a ajuda da comunidade para reconstrução do seu patrimônio. Lá é costume colocar um leão – Shiissa, na porta de casa, como guardião, é coisa boa ou ruim? Ele espanta os maus fluidos, barrando energias ruins. Pois o santo bom enxerga o mundo do lado bom, e o santo ruim enxerga as coisas ruins, dando uma proteção maior.

Então em Okinawa, o povo aprendeu a ver o lado bom das adversidades, percebeu que a vida tem o sentido binário, entre o bem e o mal.

SHINJI YONAMINE é palestrante da cultura e tradições de Okinawa. E-mail: shinjiyonamine9@gmail.com.