ARTIGO: Ídolo de barro

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Quando surgiu no cenário nacional como líder sindical, rapidamente Lula conseguiu a simpatia dos cidadãos de bem deste país, fossem cultos ou ignorantes, trabalhadores  ou empresários…

 Por Nelson Fukai

Em plena ditadura, Lula desafiou multinacionais, empresários de renome e até os generais, comandando diversas greves que reivindicavam reajustes salariais com base em índices inflacionários reais, e não os oficiais manipulados pela elite econômica. Eram greves monumentais, muitas vezes em conjunto com outros sindicatos da região do ABC, quando o ABC era o centro industrial do país, e isso acabava paralisando parte substancial da economia do país. Sob pressão, os empresários acabavam cedendo e o que Lula e seus companheiros conseguiamem São Bernardo, num efeito cascata, acabava servindo como parâmetro para reajuste de outras categorias, beneficiando todos os trabalhadores brasileiros.

Tamanha era a sua popularidade que o grande líder sindical resolveu entrar na política, continuando a receber a simpatia dos homens de bem deste país. Seu discurso político, onde a moralidade no trato das coisas públicas era o carro chefe, fez com que o Partido dos Trabalhadores se tornasse o depositário da esperança de um Brasil mais justo, mais honesto e mais humano. O grande comício na Praça da Sé, seguida de caminhada pelas avenidas da cidade, na primeira batalha pela Presidência da República contra a velha oligarquia representada por Collor, foi uma grandiosa manifestação popular e democrática, como nunca antes visto no Brasil. Perdeu essa e mais duas eleições para FHC, mas o discurso pela moralidade era cada vez mais contundente. Visto que FHC, com toda a pompa e sabedoria, tinha sido cooptado pela turma do ACM e fazia tantas mutretas quanto os velhos coronéis da política de antes da ditadura militar, a classe média se juntou ao povão e juntos elegeram Lula Presidente da República. Aí começou o pesadelo.

Usando como justificativa a tal governabilidade, começou a se aliar com velhos coronéis da política, os mesmos que um dia prometera combater. Daí para o mensalão e outras mutretas foi um passo. De maneira como nunca visto antes neste país, aparelhou a máquina pública com centenas de milhares de petistas, a grande maioria, sem nenhum preparo para os cargos a que eram designados. Mais do que despreparo, essa gente estava faminta por propinas e arranjos fajutos. Mas com a economia em alta, proporcionada mais pela conjuntura internacional favorável e pelos efeitos positivos da estabilização da moeda, do que por uma política econômica bem planejada, Lula surfou na alta popularidade. Justiça seja feita, os programas sociais e algumas medidas econômicas pontuais do governo também ajudaram no boom econômico. Mas um dia a festa acabou. Mesmo elegendo a sucessora, longe da caneta, o seu prestígio não é mais o mesmo. Agindo como déspota, Impondo suas vontades e seus candidatos, mesmo contrariando a lógica e as pesquisas de opinião e traindo velhos companheiros, acabou criando um exército silencioso de inimigos, dentro e fora do seu próprio partido. São políticos, empresários e altos funcionários públicos que trabalham sorrateiramente para ir minando o poder político de Lula. Com problemas de saúde, o ex-presidente está sendo obrigado a aparecer bem menos do que queria, dando alento a que alguns desafetos comecem a mostrar suas garras. A facilidade com que foi quebrado o sigilo bancário da Construtora Delta (a que mais contratos tem no PAC), a ausência de Marta Suplicy no lançamento da candidatura de Fernando Haddad e todo o quiprocó com o ministro Gilmar Mendes a respeito do processo do mensalão, mostram que não será nenhuma surpresa se ainda acabar sobrando coisas para o ex-presidente. Coisas que podem fazer com que, de grande homem público, Lula acabe como um grande ídolo de barro!!!

NELSON FUKAI é engenheiro, escritor e analisa questões do presente e passado da comunidade nipo-brasileira. E-mail: nelsonfukai@yahoo.com.br